22 dezembro, 2010

passos, tangerinas voadoras, névoa.
corações, balas intrépidas, afecto das ondas marítimas.
os beijos escorrendo pelas paredes húmidas do suor,
escrevendo palavras de cor escarlate e violeta,
palavras desconhecidas ao som,
carne de dentro da alma.

as mãos gesticulando cordas imaginárias
e os anjos pairando no movimento dos sexos,
das línguas, da tensão dos músculos,
do silêncio que preenche o tempo de doce,
no alto da boca,
na parte interior da língua,
no toque incessante dos lábios maiores das mulheres dos rios,
de dentro das pedras da erosão,
envelhecendo.

mulheres flores de papel vincado,
mulheres cratera, mulheres crescendo pela luz lunar,
mulheres morrendo pelo amor,
com os seus seios sedentos e muitos rijos de poemas.

morrem as palavras no verosímil tempo que corre,
tempo percorridos pelos passos do coração,
de olhos fechados com a chuva caindo das nuvens mais internas,
eterna água secreta que corre secretamente.

roupa pelo chão apodrecendo, mãos mirrando pelo osso,
pregos desnudados pelos quadros caídos,
boca do coração remendada com linhas ténues de melancolia:
as árvores dançando como ninguém,
troncos imensos crescendo da garganta dos poetas
(seres élficos galopando em florestas de sorrisos).

e as palavras cristalizando do lado de dentro da língua dos dedos,
poeta enlouquecendo na combustão das palavras,
na alta maré dos verbos alienados:
as palavras morrendo sem ninguém,
seres esquecidos no silêncio oculto das coisas.

02 novembro, 2010

abro a cabeça no centro do poço
ou encerro o poço no centro da cabeça.
caio nas profundezas da cabeça poço
caindo na doçura das pêras maduras...
pesadamente,
docemente caindo.
desço pelas paredes de pedra e de ferro,
galgando, correndo, esfolando os lábios.
bato, silenciosamente no fundo,
sobre as águas, no penetrar das águas,
rebentando por dentro às golfadas de poema.
os olhos abertos, as mãos abertas, o coração fechado...
e a escuridão na consumação da existência,
poço fundo isento de céu e de terra.

e os oceanos explodindo no alto mundo,
e a luz nos crepúsculo desmaiando as lágrimas.
exaltação das águas de orvalho escorrendo pelas paredes,
pela pele de fora pulsando o bater de dentro
do sonho fluindo nas coisas do mundo.
movimento acelerado no interior do centro da cabeça
onde os poços encerram na profundidade do umbigo
os dedos com camélias florescendo,
a faca e o poema cortada em fatias muito finas.

poço de silêncio no ecoar do grito,
da zanga animalesca das constelações,
das antenas camufladas no tum-tum-tum do coração,
onde os carvalhos crescendo pelos falos erectos
penetram pelo cosmos os seus braços de homem árvore,
tocando as nuvens no alto mar do céu,
lançando redes aos peixes celestes
que brilham aqui e ali no cimo do poço,
este poço fundo em que sou também o mesmo.

poço da ilusão do tempo da vida,
vida que é na cabeça e nas mãos imaginadas.
mãos que galgam as palavras e os seios,
mãos na ronquidão da voz em espiral.
poço dos deuses,
dos lobos uivando no vinil,
poço de morte correndo na violência da faca,
da bala, da asfixia, da espinha dos peixes celestes,
da corda balouçando no alto do poço
o corpo que voa...que plana como veludo caindo,
pena de anjo, fogo infernal.

poço onde sou cabeça e poço,
vida e morte,
pedra e húmus de poema inacabado,
coração batendo no ouvido que ecoa...
batendo, batendo.
parando.

21 outubro, 2010

vi naquela árvore a resplandecente flor da morte:
suas pétalas como asas de violeta cobrindo a lua
e suas folhas no movimento em espiral de quem se entrega.
da subtileza da existência auscultam-se orquestras de cristal,
e o céu engalanado com ornatos de poema,
palavra imaculada sobre as mães que parem os filhos,
verso da poesia do ventre,
queimando a alegoria de nascer gritando,
entre o sangue e amor do sangue.

enterro as mãos nos poços da tristeza
como árvore que da raiz se sustenta:
sou a árvore da morte
com os meus dedos arrombando a terra,
a paz
como campo de batalha com as suas asas voando,
e as mães no alvoroço do beijo
com o sangue escorrendo dos peixes perfumados.

flor da morte que voa na boca da faca;
lâmina virgem cortando dia a dia a perfeição,
folha cortando o peixe voador na língua do poema
no equilíbrio do poço das flores da morte.
e os ventres no desejo dos homens árvore
com as suas flores de morte nos satélites do beijo.

e as flautas como o canto dos cisnes negros
flutuando na enfado dos poços regurgitando
as águas na ilustração do poeta:
ser com asas de palavras voando através do verbo coração.

vi naquela árvore o poeta da morte
fabricando o mel da palavra por nascer,
procurando o magnífico momento da carícia
na alta torre no cimos dos poços das flores poetas.

poema que nasce no ventre imaginado do poeta
com os dedos tremendo no amor.
poeta que é pelas flores das árvore o
ser magnífico da emoção.

20 outubro, 2010

perco o ar na queda da raiz daquela pérola,
pedra encantada pele canto, pelo escurecer das nuvens.
perco a exactidão sobre as romãs escancaradas,
janelas voadoras com portadas batendo,
funesta coisa do coração incendiado,
folha que cai e sobe na ascendência da tristeza,
árvore que chora nos meus pés os amores contidos.
perco a roupa no areal da praia sem mar,
os ouvidos abrem-se à imensidão das conchas que cantam,
e o tecido voando como pássaros, como seres brilhantes,
aquele lenço testemunha do abraço,
do arco-iris que despoletou das arestas do soalho,
sorrindo...sorrindo.

perco o fluir do sangue da palavra,
palavra que anda com suas mil pernas sobre a alma,
esquecimento perfeito do choro, dos braços estendidos,
onda transparente onde molho os cabelos do animal,
animal intratável do beijo,
malmequer de metal florindo nos meus olhos
regado pelo sangue que apodrece no cérebro alado.
imensidão de pedras no meu peito,
na luz que entra sem sair:
sou esta claridade que se extingue,
que finda no sofrimento da palavra que sai pelos dedos,
sou esse beijo luminescente das algas,
sou a terra que sustenta a folha e o canto,
sou o grão, a lama, o poema, a pedra,
aquela coisa que ampara a revolução da lágrima,
do riso.

perco-me na luz que entre pela frecha do coração,
explodindo aqui e ali nas partes redondas da alma,
onde a folha e a flor renascem incessantes
no balão amarelo sobre a agulha que salta,
agulha que corre pelos sorrisos dos lábios:
alma infinita, copo cheio de vinho,
sorvendo a carícia pelas águas da transpiração.

perco-me no caminho entre o umbigo e a vulva,
no entrelaçar da agulha que tece o poema,
êxtase no tocar dos dedos e da língua entre as cochas.
o oceano que se impõe,
a tempestade do movimento,
nave que exala o aroma das especiarias,
das frutas doces,
das torradas com manteiga,
dos incensos queimando sobre o pires...
o corpo gritando a alegria, a palavra secreta,
o desejo, a eternidade...
a flor amarela que ressuscita no ventre
cantando as águas.

perco-me no encontro do volátil ser que sou:
bicho que explode a cada dia pela palavra,
pelo desejo de possuir a palavra desconhecida,
sustentando de braços abertos o amor,
a plenitude do sorriso coração.
vivendo e morrendo,
passando e passando pelas vidas.
perco-me no encontro e encontro-me quando me perco,
coração de frente e verso...
sorrindo.

12 outubro, 2010

nocturna palavra desespero,
palavra na reminiscência do copo no vazar da água,
água caminhando pelo ventre
na erecção das flores que de dentro do copo esperam.

ai! metamorfose do coração luz,
iluminando a noite num véu de comestível doce.
sombra que vem e que fica no cruzamento da luminosidade,
no mistério de ser o eterno enleio do amor.

mãos que crescem pela noite,
tocando alaúdes de saudade,
na intemperança,
na espera,
no tempo crescendo pela chama:
fogo insolvente da fénix que renasce
a todo o tempo.

e a ave maravilhosa rodopia, dança,
sem presença,
pelo ar existindo na respiração...
inspirando, expirando...

asas planando no meu colo,
nos dedos, de dentro da tangerina,
consumindo a extremidade da cerca mundo,
libertando pelo ar, prendendo pelo gomo.

tangerina que se inscreve na carta sobre a mesa
na casa que arde pelo peixe voador:
ave marítima que cresce no copo das flores
imbuídas nos aroma do teu ventre.

08 outubro, 2010

bicicleta voadora pelos trilhos do beijo,
viagem imaculada pelo interior do abraço,
aconchego entre a pele e o aroma da terra molhada,
da alfazema, do jasmim, do musgo no correr das águas.
viagem pelas nuvens das lágrimas,
no entreabrir do sorriso no gargalhar dos dedos,
roda que sulca o desejo da semente,
variando na descoberta da maravilhosa inovação de crescer.

vento pela braços voando,
na agitação dos dedos e das unhas e dos ossos,
na condescendência louca do sopro dos silfos,
pelo o movimento circular das pernas
correndo, andando,
transpirando
o caminho do desabrochar dos ósculos.

ser que pedala na intermitente viagem pela casa
(interna coisa no interior do coração alma),
insensato sonhador do corpo terra,
com asas escarlate brotando no pensamento,
na palavra,
na rosa de fogo explodindo na ponta dos dedos.

temerosa é a viagem pela terra das raízes:
húmus que é pelo sangue o pulsar substantivo da vida,
do poema que jorra em golfadas do interior do solo.
crosta do coração alma,
bicicleta do acontecimento,
ser que é sendo pelo acontecer,
na revolução de viver a mestre respiração
de ser deus,
de ser homem,
de ser o imaginado mundo criado,
de ser a invenção da bicicleta do amor,
brotando de dentro o espiral de fora,
sendo nada,
apenas tudo.

04 outubro, 2010

sento-me sobre a palavra que floresce pela noite;
polvos renascem dos grandes plátanos das nuvens,
seus tentáculos de poema no horizonte da lágrima:
água que cai no canto da boca,
chuva no desmoronamento fulcral do acontecimento.

palavra de penas onde descanso o corpo de concha:
corpo que enaltece o rebentamento do verbo,
escorrendo em gotas de cristal pelas rochas do enigma.
canto de escamas no percorrer dos passos sobre a casa,
concha que encerra o mundo pelo ponto,
no acontecer das estrelas brilhando.

palavra que é pelos dedos o expoente da loucura.
cabeça rebentando no interior da letra:
fumo negro dos meus olhos de neve
redopiando a fome das pétalas que caem do sorriso da floresta.
dedos alados no mecanismo do amor,
boca a boca, face a face, palavra a palavra,
no emergir do sorriso das almas
no submergir das lágrimas dos satélites do beijo.

sonho a palavra do amor e da guerra.
amor que é da terra a árvore que se ergue na nuvem,
nuvem que é pelo afecto o beijo do pássaro amarelo,
ave violenta na explosão do abraço,
no encontro dos braços de árvore,
no desejo dos sexos de mel escorrendo pelos dedos.
guerra no encontro dos lábios,
nas mãos no percorrer das pernas, das nádegas,
do úmbigo, dos lábios...
mãos conquistando a pele no percorrer do céu,
via láctea nas boca do desejo,
no toque, na eternidade...

palavra que é a profecia da morte do mundo.
real e sonho brotando nos altos mistérios do acontecer da cabeça,
flor que acontece pela ponta dos dedos sobre os seios,
oceanos de sorrisos na queda das nuvens,
pensamento na rebentação do verbo,
onda imensa do beijo coração.
morte que é pelo amor o acontecer da pedra,
pedra que é palavra, que é cravo,
sonho de relva , acontecimento,
poema.

sento-me sobre a palavra que floresce pela dia;
sendo apenas o coração da palavra
e a palavra coração.

24 setembro, 2010

barco sobre as águas flutuando no deslumbramento:
corpo no encontro das marés, do sol ardendo,
da chuva intermitente dos pesadelos,
pássaros gritando o perfeito canto.
barco sobre as águas morrendo na paz:
sem motor, sem vela agitada ao vento,
sem mastros, sem casco, sem viajantes...
barco ancora. barco afundado à superfície.

e o corpo balouçando sobre as conchas de papel,
barco de palavra construído,
com seus versos boiando junto ao beijo das folhas.
corpo que é na paz da morte a certeza do que é amor,
corpo peixe na imersão das águas lunares,
esplendoroso peixe poema no encanto da língua,
voz marítima no segredo dos lábios...

barco que navega sobre as árvores
rumando ao sabor das nuvens e das folhas voando,
com crianças correndo pela proa do beijo
e os homens amando a madeira das mulheres junto aos remos.
barco que sonha na tempestade do poema,
palavra engalanada ao leme,
norte que é acontecendo pelo verso
na récita da ode das águas salgadas do ventre da mulher.

mulher das águas,
dos oceanos dos peixes de prata
dos rios de riso ecoando pelas casas desertas.
e o barco sendo sobre a mulher,
no arrebate do coração âncora,
do coração hélice...
barco voando sobre a brisa,
barco correndo como verbo,
no acontecer do corpo que se afunda.

23 setembro, 2010

corpo deitado sobre a pedra de rosas
envolto na fina mortalha da carícia dos dedos.
braços misturados de branco das nuvens passando,
folha viajante dos céus todos, dos olhos do mundo,
deuses de silêncio sobre a brasa.

e o vento soprando no sobressalto da morte.
onda que canta letra a letra a poesia inaudível:
belo é o som do vazio das mariposas de azul.

céu que acolhe o corpo mortalhado na chama
sobre o rio que passa, no leito das costas do poeta.
ai! morte imensa que me chama,
poema magnífico no culminar dos dias,
silêncio que se agarra à parte interior da pele,
ficando e ficando no respirar da palavra:
ente que se entrega ao florescer da semente derradeira.

e o corpo consumido pela pira sobre o rio,
ardendo no poema findo, coisa da noite brilhando.
e as crianças cantando no soluço branco da paz,
e as mulheres pela a areia caminhando com a água pelos olhos.
e o corpo do poema ardendo
na extinção do verbo absoluto do coração.

pássaros de cores voando sobre o rio no acolher dos dedos,
o corpo findo, a alma de desejo, a palavra violenta,
as flautas ardendo no canto da água,
e a palavra corpo flutuando sobre a língua.

correnteza que chama.
pulsar da terra que clama o corpo ausente do tambor
tocando sobre o lume da noite...
morrendo assim. vivendo assim. silenciando assim.
paz infinita que se consome na cabeça
com azeite ardendo na concha das mãos,
iluminando o tenro caminho das estrelas que caem.
ai! corpo da palavra! revolução das mariposas azuis!
letra na ascenção do poema coração...
coração árvore da poesia
florescendo no alto da cabeça.

16 setembro, 2010

coração de poliéster ressoando,
explodindo no fumo da cabeça.
naftalina nas axilas e braços bem dobrados,
dobra após dobra,
no vinco entre o coração e a faca.

lento é o existir e rápida é a morte:
palavra esperando o momento da criação
no mundo silencioso de não ser.

e as cegonhas que pousam na minha cabeça
nidificando a esperança da alegria:
palavra ressoando no papel,
contentamento do verbo no lábio.

rio que é sonho no existir das flores de plástico,
na encruzilhada do vidro entre a língua e os dentes.
coração findando no quebrantar da luz,
poliester entre a linha e o limbo,
no cruzar eterno da vida que acontece.

10 setembro, 2010

por ora sou nuvem navegando no sangue,
céu de ausência dos olhos cerrados, em lágrimas,
flutuando sobre os astros,
luminosa existência de ser água voando,
no canto das estrelas,
no baloiço das flores silvestres no teu cabelo voando.

por ora sou a palavra que explode,
que grita do centro do mundo ao alto da boca,
acordando o coração e a própria morte.
palavra bicho que corre pela pele,
içando bandeiras escarlate nos teus olhos de sonho.

manhãs onde desejo a presença da tua boca,
entre laranjas aos gomos e rios de oceanos acordando.
astros baloiçando sobre as árvores das crianças.
cama que se afunda no remoinho da distância,
no silêncio que nos fica na entrega dos corpos,
fugindo pelo corpo a força da palavra explodindo.
corpo que esmorece ao toque do desamor,
alma perdida no canavial.

por ora sou dor que permanece.
flor que é pedra, borboleta de asas de ferro caindo,
canto mudo,
mãos que caem pelo outono que nos cerca.

por ora sou amor.
sendo nuvem sobre a palavra que explode pela manhã.
inusitado amor que é
acontecendo.

09 setembro, 2010

calma.
inusitada pausa no respirar do mundo,
no sentar do corpo na procura do chão:
chão que espera e revolta o pensamento,
que floresce na alegria dos dedos,
no percorrer da pele...
calma.
no silêncio dos lábios sobre os braços,
no interior dos braços,
nos pés subindo ao calor do mais alto contentamento,
umbigo, barriga, pele.
pele que é pele e casa onde me habito dentro de ti
palavra verbo onde me encaixo e descanso.

fluir.
sangue que cai da flor no parapeito do coração,
cascata de vermelho na ascenção da carícia:
silêncio, olhar, beijo, abraço, toque,
palavra, lágrima, água.
fluir.
caminhos dentro do alma brotando,
beijo que cai na boca sobre o anjo,
fluindo o amor nos olhos do quente sol,
corpo que exalta a transpiração dos sorrisos,
na partilha de anis e canela no alto das pernas.
forte e calmo no acontecer,
revolução que explode no olhar de lobo,
mulher lua que canta e que é...

acontecer.
proibido momento entre o nascer do sol e a morte,
sem pressentimento...
acontecendo na calma da pele e da palavra,
fluindo no amor...
coisa que acontece nascendo de rompante.
acontecer.
o amor.
as mãos.
o tudo.
o nada.
também hoje.

05 setembro, 2010

e a mulher do coração cantava...
voz que eclodia do silêncio,
perpetuando-o no sorriso dos dedos sobre a vida.
voz do mundo, onda imensa rebentando,
girassol lunar, cotovia no almejo da paz.
ai voz resplandecente que grita, que chora,
que vive...

e a mulher da alma sorria...
boca luminosa pela palavra,
pelo beijo que entra de rompante,
escafandro que mergulha na alma do meu mundo.
lábio inferior que perfura a terra
poço de luz jorrando às golfadas o amor:
língua seta que perfura a morte após morte,
vivendo a vida após vida.

e a mulher do mundo tocava...
seu véu de azul vermelho voando no alto céu da vida.
dedos que percorrem o infinito,
poesia imensa no tocar das estrelas e dos sinais:
pele que arde,
pele que grita ao toque na fusão plena de se ser,
pétala que é flor e caule e raiz,
barriga de festas,
pernas que voam no percorrer dos dedos.

e a mulher do corpo dançava...
alma que toca de leve os passos sobre a madeira,
subindo redondamente as árvores.
movimento daquela erva em silêncio,
daquela nuvem que passa ali,
mão que pousa sobre a mão
e que pela mão dança a vida toda.

e a mulher da vida planta-me...
semeando o coração de flores de água e sangue,
na calma possível do rio que transborda,
fecundando-me.
eu que floresço dos sons da terra
e do silêncio dos céus,
no encontro de me seres mulher:
mulher total, sem promessas,
de presença,
de entrega...
...amor que também é.

03 setembro, 2010

entro no teu ventre preenchendo-o,
vivendo-o...
sou o ar que te percorre a imensidão:
os teus campos de poesia florescendo em alfazema na tua cabeça,
montanhas de ar quente no cruzamento dos astros
e a terra toda como berço,
como o leito onde nos deitamos.

entro no teu ventre com a palavra.
e com cada letra toco nos teus segredos, tesouros,
pedra perdida no alto da cama,
em silêncio, palpitando dentro do teu vaso.
verbo que é raio no teu corpo de céu,
descoberta sem fim onde me entrego,
livro inacabado com que me escrevo.

entro no teu ventre como na tua cabeça.
porque a cabeça é também ventre e coração e alma;
na cabeça eu sou e não sou:
cabeça geradora do mundo todo onde me encontro na tua pele.
e beijo-te os olhos, o nariz, as orelhas e a boca,
e no encontro do beijo com as tuas partes
vivo o teu ventre de fora respirando-o por dentro.

entro no teu ventre no subir da árvore,
no tocar da folha caindo,
no abraço da casca onde me relvo na palavra e sonho,
onde me torno e transformo em gigante polvo do amor,
flutuando no horizonte do abraço onde me és.

entro no teu ventre criando-me no que me és,
e no que me és sou na essência da cabeça.
percorres o teu caminho onde me encontro sendo.
planto flores amarelas e laranjas no âmago do teu sorriso,
e pelo o colo te tomo o corpo,
rodando de norte a norte,
amando o que te és em mim em todas as direcções da minha alma.

entro no teu ventre porque o amor assim é:
inesperada coisa que acontece,
agua, ar , terra, fogo,
espírito de rompante, ascendendo a respiração,
sendo
apenas vida.

02 setembro, 2010

como não te ter se já te tenho.

lábios de flor crescendo dos céus,
impregnando aromas no alto da boca do mundo.
lábios mariposa batendo, oscilando,
chagando-se à mais alta calma do meu braço.
lábios húmidos...doces...estrelas de anis.

como não te ter se já te tenho.

movimento...oscilação...paragem.
respirar da terra.
no alto as ramos protegem o abraço,
curvando-se ao vento numa celebração de silêncio:
nos olhos que fecham,
dedos caminhantes do calor da voz,
do gemer do sangue.
ai feroz fera do amor galopando florestas,
culminado na paz da guerra
água correndo no rio certo do amor.

como não te ter se já te tenho.

palavra, verso, virgula, verbo, exclamação.
mão, beijo, grandes lábios, voz, sussurro.
silêncio, grito, vida.
e os pássaros cantando e o mundo girando como sempre foi...
sem medo,
sentindo e pressentindo a vida,
as vidas todas...
em que me és rio, luz, pedra, sorriso.

como não te ter se já te tenho.

31 agosto, 2010

contemplando o céu
milhares de conchas caíam flutuando do céu da noite:
conchas do mar iluminadas de azul, violeta e amarelo...
e os olhos sorrindo o infinito pintado de conchas.

e nós enlaçados no nosso corpo árvore,
esticámos os ramos e as folhas, dançando ao vento,
no embalo das conchas iluminadas pelo amor.

conchas cadentes queimando o prazer,
incensando-o pelo interior do abraço,
enseada onde descanso o tumultos dos dias.

e as conchas beijam o chão junto aos nossos pés,
e no beijo conchas explodem num corpo de flor,
florindo os campos ao redor das árvores,
beijando-as com as pétalas ao de leve,
como outrora os meus dedos na tua pele.

flores marítimas respirando o ar...
flores conchas no arrepiar do areal.
anoitecer dos nossos corpos enlaçados.

beijo-te no enaltecer das conchas tocando o céu,
a alma e os teus olhos cerrados no amor.
concha amarela que cai flor sobre o teu peito gritando.

amor concha que explode em onda imensa...
...espuma dos olhos teus banhando a minha praia,
meu corpo rocha...
teu corpo concha flutuando nos meus braços mundo.

simples é o amor que se vive.

29 agosto, 2010

tempo desfilando sobre as cabeças dos dragões.
eu sou o guarda do tempo que vai da cabeça àquela estrela brilhando.
cheira a anis e a jasmim as tuas axilas de luz,
e a respiração do fogo dos olhos,
olhos na ausência e na presença dos lábios.

espero pela estrela:
na espera salvo o gato que comeu a tangerina de uma só vez.
gato engasgado pela sofreguidão do desejo.

beijo esperando, queimando, torturando,
crescendo do coração à boca.
beijo que nasce e morre no tempo que é.

28 agosto, 2010

silêncio.
pássaro do infinito na tua boca voadora,
no pressentir da voz do mundo,
subindo pelo bico do pássaro azul estampado no teu vestido de ausência.
silêncio.
água correndo sobre os seixos,
devorando a terra, a pele e o poema.
e tu nas minhas águas silenciosas crescendo,
crescendo gente que nasce pessoa,
ser vigilante com dois ombros, duas pernas, uma boca.
boca silenciosa do interior do beijo coração,
batendo e explodindo em cores omissas no reflexo das águas.

silêncio,
sobre a relva das palavras,
tocando o intocável silêncio do teu corpo,
beijo terramoto, cataclismo,
ventania.
peixe que canta a morte,
pintando com sua voz inaudível o segredo da vida.
amor, criança, sorriso,
copo transbordando, dança azul ou amarela,
andorinha louca voando na cabeça girassol.

silêncio.
mudança muda, na precisão do nada ou tudo,
sendo amor ou ódio ou nascimento.

silêncio.
ouve:
silêncio. fim. começo.
começo do começo. por fim...
nós.
silêncio

27 agosto, 2010

luz,
incandescente matéria do coração
vibrando na luminescente pele da tarde.
folhas,
no alto das costas, no sacudir dos pés,
folhas subindo dos galhos do amor,
com sabor a beijo, a lábios e a dentes.
folhas carnudas no tocar da boca,
ao de leve,
língua pela língua da alma coração...

...estrela explodindo de dentro do peito.
estrela proibida, estrela vacilante,
estrela que rasga, corta e queima,
estrela sorriso, estrela paz.

dedos,
viajantes exploradores do amor,
escrevendo o corpo com a tinta das folhas,
luz das estrelas dos olhos.
olhos,
portas e janelas na ventania,
gritando e gemendo a profecia da dança.

dança...
das palavras do poemas no crescer do poeta,
rodando,
amando a pedra,
o corpo,
os pássaros gritando,
no canto da voz,
dos lábios mais altos da mulher alma:

mulher flamejando de dentro para fora,
mulher no amparo do voo e da queda.
mulher total na libertação do poema,
poema que voa pelo fogo furacão
quebrando amarras.

ai! liberdade de ter a vida pelo colo.
vida na armadilha da vida
no sorriso do amor,
lágrima no sofrer das coisas mais belas.
lágrima que liberta pelo centro da periferia do beijo.

desafio,
de ser a coisa total do mundo,
coisa amor, coisa branca,
coisa sorrindo,
coisa nua,
coisa vivendo,
coisa que é respirando...no meio das folhas luminescentes

eu,
existindo,
nascendo do centro de mim que é o teu ventre,
a lágrima sorrindo a liberdade dos olhos
e os lábios gritando o amor silêncio.

eu que vivo folha,
no alto do amor da árvore que me és.

26 agosto, 2010

existia aquela casa com telhados de beijo
onde ergui um dia paredes de palavras,
florindo a paz pelo chão onde os corpos descansavam o sonho.
e de olhares coloquei as portas muito abertas ao abraço,
na corrida dos amores cantando e comendo.
e haviam os risos por entre as fechaduras,
e o desejo que entrava pelas janelas e nos subia pelos pés.

e as mulheres rodopiavam com suas mãos altas
desenhando espirais de luz pela noite.

existia aquela casa de silêncio,
casa fechada dentro do coração e aberta pela alma,
com suas altas muralhas de carícia
onde bebíamos segredos de água com copos de pedra,
no contentamento de quem tem lua para dormir.

existia aquela casa maravilha,
onde crianças saltavam e corriam passando paredes,
comendo figos maduros no rebentar das águas,
brincado com letras inovadoras o poema.

existia aquela casa quente de amor salgado,
onde ergui uma estátua, uma canção, o supremo gesto,
na simplicidade de quem sonha e ama a vida toda,
podendo morrer no colo da felicidade.

existia aquela casa colocada dentro do ventre da mulher,
com suas chaminés altivas fumando os aromas femininos.
ventre tapado de amarelo pelo acordar da noite,
crescendo os dedos pela boca acima,
na consumação do beijo alma: dente, língua, céu, saliva.

existia aquela casa no interior do amor,
crescendo crescendo.
eternamente.

25 agosto, 2010

enterro as raízes da alma no planalto do coração.
planto-me na terra que me recebe:
maravilhoso é o aroma da pele que me cerca,
que se me cola no interior dos olhos
cegos e inusitados no sentir tudo
na escuridão da noite lunar.
magnifico êxtase do sonho vida,
no sentir o teu ventre ardendo e arquejando,
no sussurro das mãos dançando as cores;
lava escorrendo pelos teus seios festa,
queimando tudo no passar do ponto da exclamação infinita.

crias o poema pela barriga das pernas,
gerando a perfeição do voo nocturno.
crescem-me rosáceas pelos buracos do corpo em convulsões:
sou hoje a reconstruída árvore da vida
tacteando o mundo na perfusão do sangue da terra pele,
beijando a pedra e a faca e a flor,
sangrando pela boca sedenta do teu umbigo.
e pego no teu corpo de papel
escrevendo-te pela vida as palavras fecundas:
amor que é sendo totalmente
como ferro, beijo, cor ou beijo;
ser sendo no
viver,
na plenitude de estar no verdadeiro silêncio
de ser amor.

23 agosto, 2010

aquela pedra imensa de silêncio no encontro dos pés
e no olhar na particularidade do pó que nos fica.
pedra que entra pelos olhos no infinito do coração:
coração eterno do mundo,
coração palavra amor
coração batendo dentro do coração,
doendo gostosamente e batendo pelo vento...batendo.

pedra que pulsa no interior da casa da palma da mão,
no encontro das mãos, dos dedos, das linhas,
nas luas crescendo nos teus dois olhos imensos de vida,
no sol encerrando a longa noite do poema.

pedra que lacrimeja a água que te vai correndo,
nesse rio que trazes dentro,
com teus peixes dançando de azul a eternidade
na beleza incessante das águas onde mergulho respirando-te.

pedra que sendo pedra é a ruptura certa do bater das águas todas,
segredos imensos de carícia do verbo,
pedra coisa onde o amor sempre é.

aquela pedra total do coração batendo,
silenciosamente no murmúrio onde te posso ser e amar,
sendo também pedra do coração que te bate.

e sendo pedra, coração ou coisa imensa,
na sofreguidão de ser o ar, a migalha sobre o lábio,
a estrela gravada no galho da árvore,
o toque do pé na parte interna da tua perna,
sendo apenas a total coisa no centro mais interno do coração da alma,
onde dormi esperando sem esperar o acordar da palavra.

e sendo a pedra da vida da vida,
onde já vivemos o amor grão a grão,
apenas amo:
coisa sagradamente bela isto de ser pedra...
...nada...
...ou coisa do amor.
coração incessante na loucura dos passos,
no encontro das flores amarelas voando nos teus olhos.
é de pedra e de terra o caminho das amoras pela boca,
escorrendo o fogo em água
na eternidade toda na ponta dos dedos,
no desdobrar do coração,
explodindo em flor imensa de dentro para fora.

no desencontro da boca renasce o poema no centro do corpo,
no incendiar das flores de verso.

coração explodindo no alto da onda marítima,
no esvoaçar das folhas da árvore do sonho
crescendo no baixo da cabeça roçando os céus.

coloco as mãos sobre o monstro do amor,
na carícia da devastação dos campos das flores amarelas,
no fogo louco do voo da andorinha do coração alma.

e as mãos seguem pela espinha dorsal das vidas,
no canto da tua língua de desejo.
param os dedos sobre o teu peito aberto
no encontro da palavra que me consome pelo silêncio.
amor que acontece no fluir dos olhos das almas,
no momento certo e subtil da vida:
amo eternamente o amor que me és.

28 julho, 2010

deixo os teus lábios em migalhas pelo corpo,
no percurso do beijo
no galope dos animais.

pela língua perco as palavras pelos passos,
no trautear do poema esquecido sobre a flor alada.
desejo o leite madrugador dos teus olhos
no crescer das lunares saudades do meu peito,
do desejo frenético de me consumir pelo lume,
na asfixia do ar metálico pela garganta até aos joelhos,

e morro aqui.
em cada palavra, no meu desejo da palavra certa,
na dobra do coração debaixo da almofada de xisto,
no beijo do olhar sobre o decote perfumado de flores e verbos;
flores maravilhosas crescendo dos teus seios de volúpia
polvilhados de canela e açúcar,
desenhando corações dentados na engrenagem do amor.
verbos sacramentais na indiscrição do papel sobre o teu nome
e esse riso ardendo pelas bandeiras vermelhas da carícia.

pouso os olhos e a respiração no desassossego,
no pousar do redondo canto
por detrás do ranger dos dentes de leão.
ouve-se pelos poros o nascer do vento
nas abóbadas do abraço.
no transpirar da alma
no rasgar do sorriso pelas águas dos sexos vivos.

planto o amar em migalhas de palavras
em todos os hemisférios temporais,
sorrindo a vida com sementes de beijos
no teu quente colo,
na excitação do verso!

25 julho, 2010

naquela casa no cimo do mundo
os malmequeres brotam pelas paredes dos olhos
e sobre a terra estendem-se as mulheres crescendo,
rebolando no contentamento dos seus lábios todos,
na fluidez dos orgasmos das águas.

naquela casa magnífica de luz
voando por entre as pestanas dos sorrisos,
no arder dos teus seios no arco-íris,
revejo-me andando e correndo com os filhos pelas mãos
de pés descalços,
nascendo pelas mulheres gritando na alegria.

do seu grito cósmico brotam estrelas pelas vaginas florais,
no coroar dos céus de anis e paus de canela pela boca,
no desterrar do nome das coisas na violação do lábio,
no beijo correndo pela humidade
entre os seios erectos das mulheres,
na celebração da casa no quarto das luas,
com laranjas violetas nas papilas em neon brilhando
pela noite enlouquecida das mulheres.

e os satélites do amor fogueiam a imensidão,
no sentir do beijo na descoberta do pescoço,
na conjunção do abraço,
na brasa imensa onde me crescem as mulheres particulares do mundo.

amo o sangue bebendo-o pela alma em colheres de sopa,
sentido o vermelho pujando a paixão pela língua
no descer imediato da garganta ao coração,
no artifício fogo de crescer em sangue pelo espinho,
na declamação da afeição dos malmequeres.

e aquela casa crescendo pelas mães no redor dos filhos,
no festejo do sangue das mulheres escorrendo
no parir das estrelas de anis.

é no abraço da casa imensa que me sinto,
no nascer dos braços no crescer da casa mundo que me torno,
no encontro fluorescente dos malmequeres brilhando,
no segredar das palavras secretas do prazer
de amar o amor pelo o amor.

21 julho, 2010

na casca do coração da árvore à beira mar,
no momentâneo fogo do pensar e do existir,
aquela textura do beijo das ondas pela seiva
no borbulhar da língua de areia sobre os olhos.
e os homens cantando no seu alto voo com as chamas dançando nos pés
e os corações na convulsão da terra.

aquela águia de gigantes asas entre o sol e a lua
no olhar das crianças que correm na caruma,
no gargalhar dos tempos da pele da palavra,
no andar andando pelos pés da alma entre as flores.

eleva-se no ar o aroma das almas do mundo,
no verdejante musgo norte da árvore à beira mar,
no sopro do amor das pequenas coisas,
na pedra sobre a mão e na mão sobre a pedra
no elementar encontro de se ser.

e os homens cantando na voz purpura das mulheres,
no emprestar da lua no bater da pele até ao sol:
tudo é terra e água na alma das coisas,
no viver tudo pela casca de árvore,
no debandar do amor no movimento da dança,
no acolher do meu corpo ardendo.

eu pássaro águia no crescer das folhas
relvando o tempo de quase nada,
enraizando o abraço onde te encontro sempre
no arder do amor de dentro para fora
na paz de se ser de fora para dentro.

e o olhar na casca do coração da árvore à beira mar.

17 julho, 2010

corres pela praia com as minhas altas asas
no compasso frenético dos tambores de fogo.
ouvem-se as vozes do mundo todo
com seus longos cabelos brancos
no tan tan tan do coração.

e o mar lá está,
na dança da vida em meus olhos,
no vai e vem dos corpos celestes da pele,
entre cânticos e dizeres do céu
onde encontro as minhas partes todas.

correndo,
no exacto momento de viver na tua praia,
onde as mãos escorregam ao som das sementes
plantadas nos nossos ouvidos poços de mar.

buraco da terra das mil vidas,
álbum perfeito das alegrias
de estar correndo pela praia dos teus olhos quebrados.

e eu que estou partindo incessantemente na respiração,
sendo aquela concha inanimada junto ao teu pé mais à esquerda,
revejo-te nestes sonhos do poço das vidas
onde sacias a sede de crescer em teus altos braços.

e eu que te amo no repente dos teus pés correndo
entre a faca e a flor,
com os tambores cantando as luas pintadas,
no sopro de tocar os mundos que nos correm no movimento dos pés.

16 julho, 2010

no limoeiro da felicidade o encontro de sermos.

cantam as pedras todas dos caminhos
onde os pés insistem o afecto e o abraço
no andar pelo amor no caminhar do coração.

pelas mãos encontro a água correndo do colo das mulheres,
e na comoção do calor que lhes vem de dentro
lacrimejam os olhos dos meus dedos,
e da pureza da sua seiva fertiliza-se o meu corpo girassol.
cresço no desapego dos céus e ao encontro dos céus,
enraizado na terra que também sou pelos pés do caminho.

trepam as mãos exploradoras pelo coração da felicidade
no ardor das feridas na frescura dos limões.
e pela boca fica-te o beijo nos corpos todos,
beijo locomotiva do verbo
no extremo da língua
à profundidade da pedra angular do corpo limoeiro.

no desapego do eu,
dos vários tempos conjugados também hoje,
giro na alegria amarela das pétalas,
da dança milenar dos astros no interior dos gomos.

no rodopio do ardor do beijo
encerro em mim a abundância da alegria
no culminar da explosão do corpo em mil sois girando,
na comunhão da morte e da vida cosmogónica
onde te encontro sendo em mim a cada dia.

13 julho, 2010

continuo sentado junto da mesa do céu
no desejo do silêncio da terra,
entre a boca e o ossos das mãos.
passo na inconstância os dedos pelas maçãs
onde pássaros em fogo resgatam o olhar da tua pele.

pego na laranja incandescente pelo sumo
no vislumbre da palavra certa da boca relógio
onde queimo incensos de canela e benjoim sobre os sexos cantantes,
entre danças e alegrias sobre a mesa do céu.

rasgo os palavras nas sílabas certas
aquecendo o coração do mundo na conjugação do amor.
pouso, vagarosamente,
a faca no cimo das tuas pestanas
e acendo-te em fogo de baixo para cima:
da palavra ser
ao poema eléctrico de estar nos teus olhos chuva.

como o silêncio pela laranja em sangue
no respingar da água do mundo pelas unhas das árvores coração,
no lamento do carinho no olhar da tua pele.
coloco as mãos no aplauso dos sexos
debitando o silêncio das letras todos do mundo,
na construção do canto da tua voz sobre a mesa.

no ranger da madeira no apoio das pernas,
perscruta-se o amor no fazer das folhas,
na germinação do silêncio da terra onde te consumo em espasmos.

morro um pouco na várias vidas que nos cercam,
na distância exacta entre a faca e o beijo.
no silêncio da mesa do céu.

09 julho, 2010

aquando na paz da superfície plena da pele,
onde os suspiros norteiam os amanheceres
no entreabrir dos olhos mundo,
no chegar da calmaria,
o descanso das mãos que me colhem.

sou toda a coisa imaginada e sem sentido,
neste pouco nada entre o passo que vai e que vem,
entre o nascer da folhagem junto aos pés
e o arquejar dos seios depostos sobre a maré.
é na força exacta do navegar do corpo
que o mundo mexe na convulsão da poesia certa:
no verso magnífico dos teus dedos polvo,
no bater do coração poema, da palavra voraz da tua boca alma.

sobre a tua pele estendo a toalha dos lanches imprevistos
tomando o gosto do teu corpo recheado com compotas vermelhas
e por de sois.
e de te engolir com a garganta da alma pressinto-me
no momento exacto de te seres em mim:
na combustão do amor das flores amarelas.

deito-me por fim no interior da terra,
no enterro em que me nasço no teu ventre mãe.
no começar do começar,
no movimento certo de morrer ou nascer também aqui:
e sou água correndo, flor do prado,
caneta inusitada da palavra,
lágrima das grandes árvores da minha infância,
gargalhada musical dos amigos das mãos...
e sou apenas sendo,
no ritmar da paz,
na nudez de estar agora.
e só agora sendo,
sou flor amarela sobre a tua pele.

07 julho, 2010

naquele quarto de hotel no cimo das nuvens
onde as águas sorviam o ar no contentamento das lágrimas
e os dedos sorrindo no lusco-fusco do rio,
as roupas respiravam como as pedras
no cimo dos corpos de alfazema.

num passo que fosse do caminho,
esse caminho de dentro dos pés,
o cansaço das coisas todas do mundo.
no desistir da prece
(onde outrora prometemos os lábios com azeite escorrendo),
o libertar dos grandes pássaros da nossa infância
naquele voo sublime de dentro da flor lilás.

e brindámos em copos de lágrimas nos olhos dos olhos,
sofrendo o corpo todo na ponta dos dedos
no alto da cabeça do mundo naquele quarto de hotel.

o rio sorrindo na boca dos lábios das pernas,
sulcando o teu corpo todo,
no nascer das alfazemas e das amoras no derradeiro
suspiro do teu umbigo.

e o quarto, naquele hotel vazio,
naquele espaço das memórias da poesia,
onde nunca outrora fomos como hoje.
na verdade de se não ser para além da cabeça,
vivendo o rio ou o rio vivendo-nos,
nada é de facto para além do vazio do amor.

no amor nada é de facto
no desapego total da vida,
o adeus perfeito.

04 julho, 2010

nos sonhos paralelos da boca das árvores
existe a espuma do rebentar das ondas
e os risos dos pés pequenos brincando junto ao mar.
os peixes saltam junto aos gomos suculentos
no interior da garganta,
na alegria do calor sobre a pele
e no enlevo espasmódico dos teus lábios mundo.

no balouçar das árvores o beijo da boca,
o abraço na longitude dos ramos,
no vacilar das folhas, no quebrantar da luz.
ouvem-se pássaros de voz grave murmurando,
no regaço do rebentar das ondas
junto ao corpo molhado e inerte:
são de sangue as alegrias da boca
e de água as amarguras do teu peito.

do salmear das aves de prata,
ressurge, no sangrar da boca,
o teu nome de fogo no interior da alma,
onde nada é substância para além da palavra;
e no movimento das marés dos olhos,
onde as árvores perfuram o peito no acontecer das raízes,
o estancar das águas do coração
no interior do interior do teu peito.

sorris no adormecer intempestivo da morte,
onde te acolho, por fim,
nos meus braços ramos,
no contentamento de ser terra
e árvore
no teu eterno colo.

01 julho, 2010

na flutuação das mulheres na cabeça dos sonhos
existe a proporção certa da leveza da paz,
onde as mãos descansam junto ás carnes dos sorrisos.

as pernas ondulam junto ao sol
no desenho de arco-íris inovadores na humidade dos úteros,
onde as mãos brincam junto aos filhos imaginados
no enternecer no hábito do reflexo.

pela boca das mulheres floresce o imenso amor
no sussurro flamante da penetração da fala na auscultação do mundo.
suas mãos pendem no cuidar do mundo,
no estar nas coisas do acontecer da vida,
no saborear da pele junto ás frutas pelo chão da terra.

no colo das mulheres o amplexo do eu,
no descansar do descansar,
no beijar das pétalas todas no cimo dos joelhos.

no flutuar do afecto,
na perpetuação da suavidade do leito onde me refaço,
a liberdade geradora das mulheres:
na perfeição dos seus corpos lunares,
no riso do fluxo do sangue junto aos lábios,
nos seus corpos ninhos,
no afagar dos corações de relva onde pernoito.

na flutuação das mulheres,
o aterrar da paz.

30 junho, 2010

tenho no avesso da cabeça o pensamento da cabeça
onde escorrem rios de mel na profundidade dos olhos.
ouvem-se no ressoar das lágrimas o voo em espirais de luz
dos pirilampos no cantar do silêncio.
coloco a cabeça num ninho de leite
onde a palavra soluça furibunda o avesso coração:
no interior da cabeça o reverso do tanger dos dígitos
do alto das costas ao rebater das ondas.

resvala o mel no antro da saudade
no avesso dos olhos da cabeça,
onde a veracidade é o vazio da pele.

pelas escamas do corpo das musas,
das bacantes e das mulheres nuas sobre a cama,
colhem-se papoilas no arrulhar das fêmeas pela noite.

na articulação do pensar imaginado,
onde a cabeça é reflexo do verso imaculado,
os meninos correm nos seus pés descalços sobre a relva
e as mulheres amam em camas silvestres junto ao rio.
todas as coisas vivem na simplicidade no avesso da cabeça,
no viver a vida pelo o interior das coisas
no pleno latejar do avesso coração.

29 junho, 2010

naquele momento exacto de ser canto, sou flor:
no rasgo certo entre a vida e o sonho,
no adormecer do beijo junto ao lábio,
dentro do acordar da pele das florestas,
nas lágrimas das fadas,
no riso das bocas na alvorada dos olhos,
no carinho do abraço das portas da vida.

na rocha onde descanso o meu colo, sou lágrima,
água alguma dos teus olhos todos,
no existir da claridade onde respiras,
onde és apenas a porosidade da terras dos pés,
onde pouso as mãos de mil raízes,
no entreabrir da paz do corpo.

e se te sonho porque me sonho, também és.
na submersão das pétalas na correnteza,
no engasgar da palavra amor, grito o teu nome:
água. nome que invade o corpo na asfixia do poema,
na aconchego dos peixes e das pedras
com a luz no cimo dos olhos.

grito água, como quem diz amor, ódio, morango,
na perpetuação daquele canto em que fui flor.

na flor da água que sou também tu.
no canto da agua em que me és flor, também eu.

23 junho, 2010

aquela estrela no cimo da constelação,
junto ao ombro do coração,
onde pernoitámos as noites selvagens
partilhando os vinhos e o silêncio todo.

pela boca inculta do teu beijo,
onde o verbo se confunde na branca folha no alto dos dentes,
jaze a tranquila insensatez da ambição de cristal índigo,
no pintar dos olhos e dos decotes das estrelas,
no antever do irradiar da luz das mãos.

pego no anis estelar junto aos teus seios mariposa,
onde enalteces os poetas e a suavidade das águas,
no acontecer do passar das horas,
na apressada corrida dos sorrisos.


no verbo beijo,
com sabor dos tintos vinhos do céu da boca,
o passar do rio, das casas
e das mulheres tecendo os filhos
com suas grandes bocas de felicidade,
no fiar dos cordões umbilicais,
onde também tu sorris segregando o existir.

22 junho, 2010

da ponta da agulha de ferro,
no entrar e no sair das partes mais pequenas da romã,
sorvem-se os saberes do teu ventre,
entre o mundo dos lábios e o joelhos tremendo.

no abandono da dor,
nos cristais marítimos do prazer,
ocultam-se as vergonhas no arfar dos úmbigos.
no centro dos lábios mudos,
entre a língua e a harmonia dos sinos.

no entrar da agulha no respirar da romã,
colhem-se abandonos, no encontro do silêncio.
na calor das águas dos corpos,
onde mergulhamos no ferro da agulha,
no culminar da sofreguidão dos corpos,
nos lamentos da ilusão do prazer.
na solidão das romãs,
nas extremidades subterrâneas dos ventres,
a exaltação da cópula do mundo:
no repassar da flor poema,
no logro do comprazer.

no roçagar dos lábios das romãs,
em todas as partes mais vermelhas,
és também só no jejuar de ti.

e na troça dos céus aquele divino silêncio
onde se esquecem as existências,
o cair da terra sobre o corpo exausto de saudade.

21 junho, 2010

dentro da caixa está escondido o interior da caixa,
na revelação do nascer da letra,
no raiar da beleza particular do branco.

ouve-se o respirar do brinco
no pestanejar da noite,
entre os vinhos, as pernas e as línguas
com os seus mil sexos de oliveira.
nasce a letra da conjugação da letra,
no soletrar, entre a saliva e os dentes.
letra magnificente no seu corpo,
da cabeça dos céus à base dos pés,
esses pés de caminho pela linha e pelo ponto,
no encontro da paz do verbo pleno e plural.

brinco que expira no inspirar da caixa,
no sorrir da bigorna da noite,
no malhar da letra pelo fogo do lábio
na construção sublime da coisa.

no reflexo das luzes o branco -
esse branco da sombra das oliveiras -
onde os sexos perduram entre as letras e o alto das pernas
no alvo da boca e na celebração do som,
germina o exterior da caixa no acontecer interior,
onde tudo é por dentro,
no culminar do caminho de fora.
sou apenas pedra, coração e peixe...
no cair da montanha, no bater do sossego, pelo mar dos olhos.
no enamoramento daquele singular cabelo,
da folha que cai sobre a poça
e no sol no reflexo das águas,
existe a suavidade em todos os pequenos gestos

encalho no amor no bater do gesto,
no engajar da simplicidade da gota
(aquela gota que flutua entre os corpos e o ferro),
e dos olhos, pelo mar, afundam-se as raízes,
na profundidade do zelo, no digitar do cansaço.

no reflexo do sol sobre a folha,
na perfeição imperfeita da vida ou da morte,
nascem crianças pelas flores lilases
beijadas pelos lábios carnudos,
no correr da transpiração e da paz.

pego nas crianças pela água
na asfixia do cansaço do beijo das flores,
comendo os seus sorrisos de branco no acolher da língua,
sorvendo o leite pelas nuvens,
no regozijo da fasta vida.

18 junho, 2010

no movimento compassivo da hélice dos sonhos
no caminho da praia, junto ao furibundo motor coração,
vislumbra-se o arrebol no horizonte do sorriso,
aquele mesmo sorriso com que desnudas as tuas penas,
no abrir das pernas e dos lábios.
é junto dos teus membros mais escamosos,
no húmido motor da tua pele,
que adormecem as unhas e os dentes,
no lamber dos líquidos mais sedosos da terra,
onde nasces em teu corpo girassol
no sangue que corre com as luas.

no arregalar do colossal respirar da manhã,
onde nos deitamos na cólera do beijo,
no compasso da hélice dos sonhos,
no carburar do pensamento da cabeça alada,
nasce a boca no silêncio das águas.

é pela cabeça que giro o mundo e o dobro,
colocando-o no ventre da terra
onde nascem singulares cabeças mundo.

na harmoniosa composição do pensar,
onde a cabeça está na junção da cabeça,
crio o amor em todas as suas peças,
na engrenagem do beijo pela língua,
no olhar e pelos dedos.

aceno-te na descoberta da pele
no silêncio das águas do teu ventre,
onde acolhes as cabeças mundo,
no movimento compassivo da hélice dos sonhos
no caminho da praia, junto ao furibundo motor coração.

17 junho, 2010

no veio da nuvem passa um carreiro de paz,
no centro dos olhos do pássaro amarelo
onde outrora descansei os meus ramos mais pequenos.
da boca aberta grita esvoaçando aquela borboleta azul,
entre fagulhas de maçãs e laranjas em fogo brando.
coloco a mão sobre a estrela mais distante
sentindo o leite quente no teu peito de vénus.

sente-se a paz na água do copo sobre a
mesa posta no lado de fora da casa.
a mulher respira a criança que corre na nuvem de paz,
no centro dos olhos do pássaro amarelo,
onde as migalhas das flores cobrem o céu de magnólias pela noite,
na incandescência do afecto do garfo e da faca sobre a mesa,
no colo daquela estrela de leite.

coloco a chave pela estrela no abrir do coração,
exigindo pela força do braço a procura da noite.
pela janela vermelha dos poços passam as fadas galopando no poema,
onde a palavra é na vírgula e sobre o ponto
a construção do verbo secreto do amor.

na água do copo sobre a mesa os lábios descansam no silêncio,
onde o vidro reflecte a mulher e o ar,
e ao longe aquela nuvem de paz
onde descanso o verbo e os meus ramos mais pequenos,
no centro dos olhos do pássaro amarelo.
no orvalho da tua língua viperina,
onde as luas das lágrimas de mel renascem,
está retida a verdadeira liberdade do desapego do amor.
encosto-me no aconchego dos teus pés e na filosofia do teu peito.
no silêncio oiço o rufar do coração do mundo,
no enternecer do ouvido e da tua pele mais exterior.
sigo-te pelos dedos no enamoramento da descoberta,
dedo ante dedo,
no abismo do teu umbigo à claridade das ervas.

arquivo os cheiros das tuas particularidades mais doces
no mapeamento do teu corpo sonho, vivo no teu corpo pedra,
entre as árvores, as flores e os risos das crianças.

no desapego do amor construo-te na brisa da manhã,
no desenho das conchas marítimas, no reflexo da saliva.
no efémero existir do beijo o eterno viver do abraço...
na ilusão de ser.

12 junho, 2010

ando para lado nenhum na ilusão que vou para algum lado...
por fim cesso imóvel na delícia de ficar...
no presente de quase nada...
como a aragem, o vento, a folha...
ou como eu próprio neste mundo.

sigo pelas raízes deste mundo sem curvas;
papagaio de papel rumo ás estrelas e aos ramos,
na singularidade do voo:
fluindo na dança da aragem
como a palavra poema dita pela voz da luz,
ou pelos poetas com suas grandes asas.

percorro pela terra,
furando-a com a voracidade do beijo.

olho a plenitude naquele pássaro violeta,
falcão dourado das auras do mundo todo.
numa flor sou a faca pela pele,
pela pele sou a água das estrelas,
no caminho contínuo dos encontros de pó.

estanco os pés pelas pedras que me puxam
no fluir dos dias e do pensar:
aceito que tudo é vida ou sonho,
no ganhar pleno dos mil braços que me crescem pela cabeça,
do sumo das maçãs e do sal pela boca.

percorro a casa vida no momento próprio e único,
com todos os olhos das mãos percorro o espaço,
o soalho, os móveis, o napron muito branco sobre a mesa,
o gato que mia,
o homem das mãos que percorre o mundo pela janela,
a vizinha no rufar do tambor;
casa labirinto de mil choros,
de sorrisos muitos pelas mãos,
no construir das asas e do sonho vida.

paro no vislumbre da paz e do silêncio,
porque todas as coisas são essência simples de todas as coisas
ou como eu próprio neste mundo.

08 junho, 2010

o olhar no balanço das marés.
aqui e ali uma estrela de anis sobre o peito,
esse peito de maresia e aconchego
no beijo silencioso das mãos e das unhas.

sente-se o palpitar da lágrima incandescente,
no inverso do corpo mais despido.
corpo ultrapassado na ilusão do existir,
no beijo húmido dos joelhos ao umbigo.

é de carmim a promessa que corre pelo vento:
som pela lâmina no afiar do amor,
jura, lume, coisa, pêlo, boca.

é no apego que morre a onda e o pássaro...
é na afeição do respirar que morre a mãe e filho,
o sonho, a sorte, a coisa alguma.

olho o balanço das marés como quem olha o trapézio das marés:
no vai que vem e que vai...
sem esperança ou premeditação,
no movimento do movimento.

no desejo do corpo não corpo,
come-se o pão pelos olhos e pelo sol.
no baloiçar do tempo, no desapego dos ossos,
no silêncio.

entre as amoras e os abraços
existem todas as coisas inexplicáveis e mágicas:
a borboleta que voa, as maçãs pelo chão, o cintilar das almas,
o sentir conjugado no agora,
o olhar no balanço das marés.

05 junho, 2010

se o amor soubesse a manteiga,
comia-o com torradas e mel...
pelas fomes da boca, dos dentes e dos olhos.

mas o amor é um pássaro de ar revolto:
com o seu bico lança,
com suas penas de acaso
onde nos ferimos no toque e nos alegramos no abraço.
o amor é toda a coisa que nos cerca:
aqueles olhos grandes da noite,
o cheiro a framboesas pelo ar,
a água que jorra no interior da garganta,
a voz que beija pela palavra,
as mãos no regaço e os cabelos nos olhos,
o fogo da fogueira pela ardor do canto,
as lágrimas que caem no vazio pelos oceanos,
a areia que voa pelos correr dos pés,
a boca mordida pelos dentes antes do beijo,
o silêncio dos corpos no encontro que já foi.

quando for grande deito-me na relva a sentir a terra e o silencio...
e de quando em quando partirei para outras terras de abraço e de sonho.
nos abraços descobrirei que abraços já fui,
e pelas mãos fluirá o sangue do sonho num azul de serpentinas e risos.

que os passos sejam sementes,
e as palavras e os incensos a magia resplandecente das asas,
no encontro da terra por baixo dos corpos,
ao encontro das águas onde já fomos vida,
ao sabor do ventos que nos despenteiam os espíritos.

quando for grande serei apenas mais pequeno,
porque saberei brincar na erva e no sonho,
na comunhão do amor e da ternura.

sento-me no inicio e pelo fim,
no sonho que é sobretudo a vida...
no reboliço inesperado dos verbos...
no deixar acontecer o rio.
sentamos-nos?
no início e pelo fim.

02 junho, 2010

no crepúsculo brilham os olhos da noite,
essa clara noite onde brilha a estrela de alva.
espera o tempo do encontro e do amor,
na simplicidade de ser pela noite o riso das luas

por hoje desejo aquele abraço de silêncio...
no verso que não rima,
na música surda dos pássaros,
no vórtice dos corações alados...
naquela ausência total onde me aconteces no renascimento.

e sou as mãos da tua voz imensa,
onde as ondas te recebem ao meio dia.

queres falar?
sim quero falar no alto do mundo,
naquela língua de frutos silvestres,
a passo largo e lento com areia pelos pés,
no canto dos meninos do encontro,
todos eles pelas mãos do mundo.
sim quero falar naquela voz inaudita de silêncio,
no medo da voz e dos lábios.
sim quero falar daquele abraço luminoso,
onde somos sol de muitos mundos.

por hoje desejo aquele abraço de silêncio...
no encerrar dos olhos na paz do colo,
no adormecer na alegria, sem pressas e amanha.

possamos sorrir os sorrisos todos desta vida,
como noutras que foram e que virão,
na relativa coisa que é a vida que nos brinda.

sim, quero falar.
por hoje desejo aquele abraço de silêncio...

31 maio, 2010

apetece-me a dança entre nuvens,
onde possa sonhar o corpo sentindo-o,
no ritmo incessante do tempo onde te encontro.
dancemos as almas nos nossos braços de árvore
olhos no silêncio, mãos nas mãos.
no toque das ondas e pelas marés,
durante as treze luas do teu útero poesia.

no enleio das mãos encontro o silêncio das almas,
aquele momento total, na rebeldia do coração.
e olho cada pormenor mais pequeno da dança:
retenho-me na ilusão do tempo e recordo-te agora,
na voracidade da pele e da boca,
no sentir presente da vida que me ofereces.
que seja agora o momento da dança,
de olhos fechados, dedos pelos dedos acima,
no subir autêntico da carícia do abraço.

apetece-me a dança do teu colo,
dormindo apenas na palavra,
onde o meu corpo é o respirar do teu,
compassadamente belo.
acordo-me no teu corpo pelo entardecer das uvas,
e por momentos sou o teu cabelo,
as tuas lágrimas e o teu sorriso,
sou borboleta de mil asas,
onda azul no beijo dos olhos.

apetece-me a dança no silêncio,
no ranger da terra,
no baloiçar das folhas de sorrisos,
agora, agora, aqui, aqui.

encontro-me no encontro da dança,
onde somos sós, leves pelo vento.
danças?

26 maio, 2010

no medo, no agrilhoado caminho do temor,
onde o corpo das flores esmorecem
e a luz é mais ténue no alumiar dos olhos,
o medo é apenas desamor.

as mãos são parte da boca,
e o coração parte da terra do mundo,
onde o fogo é ilusão de fogo,
na quimera da vida,
no crescer dos ciprestes onde crescem os longo braços do amor
onde me crio pelo leite da lua.

liberto-me do sangue e da morte,
e de todas as sementes do medo,
onde cardos e flores nefastas crescem
no ferver da mente.

largo tudo pois nada é.
no correr do amor,
na liberdade do amor,
incessante coisa pelo vento cresce
no rebentar das veias e no quebrar dos ossos
onde a alma se prendeu.
apenas o amor torna os teus lábios os lábios
e as minhas mãos as mãos,
no envolver do carinho em papel vegetal,
no acolher do leite das crianças,
nos sorrisos que espreitam nas loucas poesias,
na consumação da liberdade.

peguemos no amor gritando-o,
corramos pelas ruas e pelo vento,
na revolução do abraço e do beijo
onde possamos nascer de dentro do coração da vida.

que diga eu o amor em todas os tempos verbais,
nas várias pessoas no mundo:
que o amor seja a consumar da partilha nossa,
pela boca do corpo até aos dentes.
amo-vos na insensatez do amor
porque o amor é a liberdade de sermos todos.
amo-me-te-nos-vos.
no acolher do amor.

22 maio, 2010

no contíguo estar dos lábios,
no rebentar das ondas, no aroma do vinho,
no amparo da queda...
vive o poema na sede do mundo:
mundo coração primeiro,
na aragem do respirar do prazer,
onde te encontro no sopro de bambu
com água pelos olhos e até aos joelhos.

são os dedos que tocam
mas é a alma que sente...
os olhos do sangue pela garganta,
o transpirar do amor pela areia,
e o grito no ecoar da terra marítima.

os cabelos voam no levitar das asas,
na cadência da perfeição,
no encanto das mulheres, das borboletas,
no descansar de lótus.

abraço o abraço das pérolas,
no rufar do coração e das peles,
pelas rugas e pelos caminhos percorridos
na solidão de estar cheio do mundo,
no júbilo dos passos,
no harmonia do encontro.

que seja na praia com os seus peixes e pescadores,
que seja no céu,
no adormecer do corpo das ondas,
no canto e na dança com que me abraças.

que seja sem sobressaltos grandes,
ou na velocidade do sentir,
no som da loucura e do silêncio.

abraço-te. abraças-me.
em mim...todos nós.

21 maio, 2010

no fechar dos olhos florescem mundos.
vivo por aqui incessante, entre livros e beijos,
tocando a língua e sentido a paz.

o corpo é apenas corpo,
sussurras no respirar das unhas,
a alma é apenas luz,
grito no penetrar no silêncio.

ao longe vê-se o mar é certo,
e sem esforço pressente-se o voar dos anjos
e o canto das mulheres.
sorrio-te sem te ver luz mas sentindo o teu cheiro
a caramelo no derreter das velas.
são belos os momentos em que és vento ou sol ou música,
pois no sentir da vida morre-se melhor:
sem pressas, no fluir das águas.

as palavras são paz que vos deixo,
com sorrisos de arco-iris
e esperanças da vida toda...

porque tudo é apenas terra e vida,
no espiral do sonho onde persisto.

14 maio, 2010

deleito-me no colo que me ofereces,
no afago das asas, no calor da ternura.
são infindáveis as asas do amor com que me libertas.
no aconchego dos olhos descanso os ossos
no adormecer da alma...

aos poucos
deixo-me ficar nas pétalas doces do teu corpo,
ouvindo ao longe o cantar das ervas pela a aragem.

se a vida não existe persisto no colo que me dás,
só hoje no segredo dos lábios de diamante,
entre chás, vinhos e leite.
se a vida existe persisto no teu colo do meu colo imaginado,
onde és borboleta, sonho e mar,
no silêncio demorado da paz.

só por agora o silêncio da alegria,
um momento apenas...ou todo o existir!

os meus braços sãos flores carnívoras no abraço,
e a minha palavra o verbo do amor;
onde o corpo é incensário e livro
e a alma toda a água da compaixão
onde a paz das vidas emana.

no teu colo do meu colo,
onde és porque sou,
nasço também hoje pelos teus poros
no respirar incessante do coração.

porque nada é para além do amor,
e nada é amor para além da existência.
amo-te e a todas as coisas:
o gato que passa no sussurro da noite,
o choro da criança do andar de cima,
os passos dos filhos pela casa toda,
a flor que morre aos poucos na sua beleza,
e a mim que amo a simplicidade da vida.

por hoje o amor é até mais não.

11 maio, 2010

o sol nasceu no centro dos olhos,
miosótis mil caem pelas braços no acordar do sonho.
sabem a vinho e a rosas os lábios da noite
e a leite e a trigo pela manhã...
nasce o dia como nascem os sorrisos das tuas mãos:
na luz que resplandece na ilusão do existir.

e sorris por dentro do sumo das laranjas
e pelos aromas a papoilas do teu ventre.
são de paz os teus lábios,
os teus dentes e a tua língua no sorriso do abraço
e na palavra que foi e que é...
...pois os sorrisos são de tempo nenhum,
são pontos de luz com que pintas os céus na ponta dos dedos.

pego no teu sorriso e dobro-o pelo colo:
limpo o meu sorriso no teu sorriso
sentindo no encanto todas as tuas coisas mais pequenas.

na compaixão de te sorrir
também sorrio no tempo que nos fica.

29 abril, 2010

no pressentir dos passos pela erva doce
dá-se a respiração da alma.
ouve-se o baloiçar dos ramos e dos cabelos
no embalo das crianças de leite.

cheiram-se as mãos apressadas do devir
e bebem-se os sorrisos de cereja na vã loucura do nascer.

vejo a cabeça no alto da imaginação:
é de sangue e sonho o amor que te recebe.
a tua barriga está presa ao amor da criação...
corto com dentes de rosa a corda da paixão,
na liberdade de seres flor ou animal ou nuvem.

olho-te com os olhos das lágrimas
e com o coração dos gigantes,
na elevação da mais alta poesia
...na inexistência da palavra e na acção do verbo.

é com beijos que recebo o anjos caído:
ser roubado aos céus e aos deuses
pelo esplendor da carne.

és baptizado no leite que jorra da tua mãe,
mulher agrilhoada em flores pela vida dos filhos.
mulher que lambe os filhos na combustão do amor,
na intensidade dos filhos geradores das suas mães.

os homens pinguins abraçam a criação dos filhos
e nas suas mais altas mãos estendem os seus cravos
às águas e aos céus,
no acordar da roda cosmogónica do amor.

28 abril, 2010

todo o mundo acontece no alto ventre da mente.
o pensamento é o corpo da alma e da inexistência
onde descansamos o existir.

é de amor que vestimos os nossos ossos e as nossas pétalas
com os seus cheiros de lótus e água do ventre.
é de silêncio as raízes do amor,
raízes umbilicais com que criamos o mundo e a luz.

é de silencio a verdade do beijo do encontro do encontro da alma da vida:
somos silêncio, água e pouco mais.

silêncio dos mil verbos do amor
com que rasgamos os passos, a boca e as mãos.

o pensamento é as asas do corpo:
asas de condor alado no voo perpétuo das vidas:
asas com que sentimos o vento do outro,
na existência dual do eu e do tu,
onde me crio e te crio
e onde te crias e me crias no desapego e na paixão,
onde tudo é silêncio, infinito e vazio.

sempre e em nenhum lugar.

26 abril, 2010

da cabeça habita a existência do eu.
cabeça na iminência do vazio e do tempo.


cabeça sacrário da criança passada:

com mãos vacilantes e sonhadoras.

criança secreta e sombria,

criança projecto do mundo,

criança performativa do silêncio.

eu criança inexistente refém da cabeça do eu:

velha pelo tempo e esquecida pelo corpo.

corpo em metamorfose total,

corrompido no momento presente e passado.


cabeça canibal dos dias,

devoradora da existência no envelhecer do sangue.

cabeça sonhadora do eu:

eu imaginado pelo eu,

construído num mundo palco,

encenando os verbos da vida…

vida contida na cabeça do mundo.


o eu vive pela cabeça do eu,

na realidade do eu cabeça.

morre o eu no encerrar dos dias,

e com o eu morrem todas as visões da vida.


o eu é nada.

o eu é passado passado.

eu imaginado na construção do mundo.

eu universal nas águas do cosmos.

24 abril, 2010

cantam as fadas em redor do teu corpo vida.
no desassombro dos cravos em flor
sussurram a liberdade das mão e do verso,
esse verso que te toca o peito ao de leve
e te faz sorrir no correr do rio.

voemos com as nossas asas de sonho o mundo todo,
no decalcar do solo a cada dia,
na surpresa e no encontro que nos arde em chamas de azul.
que a minha língua exploradora seja a bússola do teu desejo,
na vertigem e na queda das asas que nos cobrem.

que os lábios escondam o beijo sem o reter,
no sentir incessante da ternura,
no afago dos ossos
na adulação do teu útero quente e húmido.

e todo o respirar é lento,
na paragem do pensamento e na cobertura da pele,
no prolongamento do tempo e do êxtase
no sorver das tuas águas todas.

23 abril, 2010

da pele serena onde descansam as fomes do mundo,
exaltam aromas de canela e pimenta.
a pele é o desejo manifesto do interior do corpo,
onde o toque singular cria a reviravolta do mundo.

pressinto as mãos que descansam no louvor da vida,
onde tocas nos segredos das coisas mais pequenas
na eterna dança do teu corpo manifestamente dançante.
sente-se o vento que crias na passagem,
vento criador e dissociado do desejo,
onde o tempo parou e encerrou os meus olhos.

é o verbo da tua pele que escrevo hoje,
nestas águas onde encerro as tuas mãos eternas.

o amor é causa alguma onde descansamos a vida,
amemos todos os todos que nos cercam.
tornemos no alto do amor a união dos corpos todos
na elevação da alma mãe e única.

22 abril, 2010

pegaste pela luz a água do leito.
cheiram a ramos os teus cabelos arco-iris,
e de ocre pintas o sonho das árvores.
árvores que sobem e que descem pela raiz do sonho,
perfurando pela força do poema o coração das coisas.

os teus joelhos cheiram a terra doce e a alecrins da primavera,
e do teu ventre nascem vertiginosas mariposas
com as suas asas em flor e o seu canto de silêncios.

correm os rios em seus percursos furibundos,
desbravando as tempestades do caminho
e alimentado as bocas e os seus dentes,
na revolução do alto das tuas pernas.

é no abraço que sinto a plenitude das paisagens,
daquelas com que vislumbras os meus olhos,
no calor do sossego.
beijo todos os poros com que inspiras a terra,
todos os dias da existência
para além da memória das pedras de âmbar.

e amo todo o teu céu até ao centro da terra,
onde flamejas a chama flamejante do amor e da vida.

de terra foste da terra és.
como eu, tu pela existência do mundo,
nesta casa onde me enlaças, libertando-me.
casa de água e terra pelo coração;
casa de ar doce e terno pela alma.
no teu ventre de terra continuo a nascer e morrer,
terra berço, terra sepultura,
terra imensa e total.

20 abril, 2010

as mãos encerram o segredo do corpo.
segredo fechado na parte interna da língua,
no silêncio do limbo onde a água nos cobre.

o corpo é um poço onde o sangue respira,
onde a alma borboleta voa o amor e a fuga.
poço com a água da noite,
onde em tempos se recriou o corpo
dentro do corpo lunar da mãe.

despeço-me destas águas no encontro com o mar
e num sorriso a alma é um vazio total,
e numa lágrima de éter se condensa todo o momento do existir.
crescem maças pelo mundo com sabor a cereja
e germinam flores no alto das crianças onde as suas almas são dez mil sois violeta.

queimam-se as memórias e as dores do caminho:
no ar caem pássaros de cores sublimes cantando a morte.
nada é para além da morte
e pela morte tudo verdadeiramente existe.
No existir,
no magnânimo existir,
nada é para além do existir.

19 abril, 2010

sento-me na saliva do desejo,
no abraço das árvores, na candura das nuvens.
o meu corpo é feito de todas as particularidades do mundo,
aquele mundo que te assola a mente e a ponta dos dedos.

toco-te com as pestanas asas de borboleta
no esplendor da altitude dos corpos,
no grito calmo e doce que emerge da palavra.

como-te como se comem ostras,
no ritual do corpo que morre pelo boca,
na conjuntura da água e da carne.

os lençóis voam como bandos de asas
percorrendo todo o céu em espirais de sonho.
chovem flores carmim dos teus olhos de amêndoa
onde o sol se põe no aconchego.

sento-me na saliva do desejo,
no arquear do corpo entre os mundos todos.

riem-se os deuses que habitam na voz,
no contentamento do arrepio,
na queda do apego,
na elevação da compaixão.

22 março, 2010

da terra ergue-se a cabeça do pensamento.
as suas raízes estão enterradas no cosmos,
como âncora sonhadora.
da terra ergue-se a cabeça da poesia.
com as suas mil palavras escondidas,
palavras de água e de ar.
da terra ergue-se a cabeça da morte.
o seu cheiro é doce e atraente,
como as vaginas do prazer.
da terra ergue-se a cabeça do amor,
com os seus braços de polvo,
na metamorfose das asas.
da terra ergue-se a cabeça da alegria,
com suas lágrimas de fogo,
com os seus dentes muito inteiros.

da terra enterra-se o corpo todo:
corpo perfurador da mente e dos infernos,
corpo raiz da cabeça e do cosmos,
corpo pedra angular da existência:
porque tudo existe na exacta dimensão da cabeça,
porque nada existe para além da cabeça.
somos cabeça e corpo imaginado,
todo o mundo é inexacto como a cor do ar:

o amor não existe.
o ódio não existe.
apenas o apego imaginado da substância,
apenas o sentimento do que nos dói e aflige,
na construção imaginada e enlouquecida da cabeça.

o fogo extingue-se pela paixão do ar,
e a cabeça eleva-se além céu
na percepção do nada.

18 março, 2010

o teu sorriso desperta-me memórias de incensos,
aromas doces oriundos dos deuses que nos vivem dentro.
o teu sorriso são mil cosmos cintilantes,
é leite e erva molhada pela aurora,
é noite de estrelas,
é o suor dos corpos na consumação do prazer.
o teu sorriso é a súmula da alegria
e o apagar da dor impressa nos ossos.

cheiro o teu sorriso,
e olho-o sentindo-o pela pele e pelo pulsar do sangue,
e oiço-o através do cintilar dos teus lábios,
e como-o com os dentes do sonho.

e pelo teu sorriso o meu...

13 março, 2010

de lótus veste-se o pensamento de azul.

com os pés norteados para o cosmos
a mente percorre o respirar:
na inspiração do sonho e na expiração do sonho.
viajam a mente e o corpo,
num momento pela eternidade do mundo.

e pelo caminho jazem monstros de muitas cabeças,
seres disformes de medo e de inveja,
e de todas as coisas pequenas que nos tolhem.
ouve-se ao longe o silvo de Mara,
queimada pela luz daquele que se ilumina.

liberta-se na calma e na paz o apego,
e tudo o que nos é sofrimento e
herança das vidas todas.

e todo o universo se torna pequeno na mente daquele que pensa.
e todo o espaço se transforma na mais alta felicidade,
na viagem suprema e final.

18 fevereiro, 2010

na mais alta árvore cai a folha do contentamento:
sobrevoa o mundo e o olhar dos animais em fúria
e cai na velocidade da onda marítima,
criando a espuma na boca das mães
e o tormento dos ossos
no ranger da paz.

estremecem as vontades e os desejos,
os corpos arqueiam-se no espasmo da água,
deleitando-se no colo da mãe
que dorme na invenção do filho.
as bocas sabem a água e a terra,
e o pensamento cor de cereja nos olhos do beijo,
na ganância furibunda das raízes da alma
e na asfixia do verbo feito palavra.

colhem-se as raivas no momento preciso de um instante,
naquele tempo exacto entre o cair da chuva
e o jorrar do sangue.

e tu,
derradeira mulher árvore,
encerras as tuas raízes no centro do tempo
crescendo e voando na autenticidade da seiva,
morrendo pelos filhos em flor de mel.

15 fevereiro, 2010

é de prata a madrugada dos teus olhos
onde nascem os miosótis em flor;
é de prata a verdade humilde da tua pele lacerante;
são de prata os sonhos do mundo onde encontro os teus seios
de algodão doce pela língua.
é de prata a lua dos deuses, os incensos,
o sabor do teu corpo todo estendido sobre a névoa;

são de prata os laços de sangue que nos crescem na alma,
como as promessas segredadas dentro do beijo de âmbar.
é de prata o ouro e as pedras dos teus sonhos
onde me fazes rico pelos sorrisos e pela existência,
pela palavra do amor,
pelas rugas do tempo que nos celebram.