22 março, 2010

da terra ergue-se a cabeça do pensamento.
as suas raízes estão enterradas no cosmos,
como âncora sonhadora.
da terra ergue-se a cabeça da poesia.
com as suas mil palavras escondidas,
palavras de água e de ar.
da terra ergue-se a cabeça da morte.
o seu cheiro é doce e atraente,
como as vaginas do prazer.
da terra ergue-se a cabeça do amor,
com os seus braços de polvo,
na metamorfose das asas.
da terra ergue-se a cabeça da alegria,
com suas lágrimas de fogo,
com os seus dentes muito inteiros.

da terra enterra-se o corpo todo:
corpo perfurador da mente e dos infernos,
corpo raiz da cabeça e do cosmos,
corpo pedra angular da existência:
porque tudo existe na exacta dimensão da cabeça,
porque nada existe para além da cabeça.
somos cabeça e corpo imaginado,
todo o mundo é inexacto como a cor do ar:

o amor não existe.
o ódio não existe.
apenas o apego imaginado da substância,
apenas o sentimento do que nos dói e aflige,
na construção imaginada e enlouquecida da cabeça.

o fogo extingue-se pela paixão do ar,
e a cabeça eleva-se além céu
na percepção do nada.

Sem comentários: