12 junho, 2010

ando para lado nenhum na ilusão que vou para algum lado...
por fim cesso imóvel na delícia de ficar...
no presente de quase nada...
como a aragem, o vento, a folha...
ou como eu próprio neste mundo.

sigo pelas raízes deste mundo sem curvas;
papagaio de papel rumo ás estrelas e aos ramos,
na singularidade do voo:
fluindo na dança da aragem
como a palavra poema dita pela voz da luz,
ou pelos poetas com suas grandes asas.

percorro pela terra,
furando-a com a voracidade do beijo.

olho a plenitude naquele pássaro violeta,
falcão dourado das auras do mundo todo.
numa flor sou a faca pela pele,
pela pele sou a água das estrelas,
no caminho contínuo dos encontros de pó.

estanco os pés pelas pedras que me puxam
no fluir dos dias e do pensar:
aceito que tudo é vida ou sonho,
no ganhar pleno dos mil braços que me crescem pela cabeça,
do sumo das maçãs e do sal pela boca.

percorro a casa vida no momento próprio e único,
com todos os olhos das mãos percorro o espaço,
o soalho, os móveis, o napron muito branco sobre a mesa,
o gato que mia,
o homem das mãos que percorre o mundo pela janela,
a vizinha no rufar do tambor;
casa labirinto de mil choros,
de sorrisos muitos pelas mãos,
no construir das asas e do sonho vida.

paro no vislumbre da paz e do silêncio,
porque todas as coisas são essência simples de todas as coisas
ou como eu próprio neste mundo.

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