28 abril, 2011

água pela pele inconstante dos anjos,
escorrendo no vapor da respiração,
da transpiração dos cravos de um abril com medo.
os dedos caminhando pela lava do sangue,
ardendo as raízes poéticas do livro do coração.
caem palavras como folhas das árvores dos céus:
amor, paz, amor-amor.
palavras amontoadas pelo chão,
esvoaçando pelo verbo das águas, pelas estações,
pelos dias,
crescendo pelos úmbigo materno das mães.

florescem mulheres de água no oceano da existência;
cheiram a leite os seios frondosos de flores vermelhas,
as línguas roçam o céu da boca no vislumbrar do amor
e o êxtase em espirais de cristal.

rosáceas e cravos florescendo nos campos de nuvens,
no desejo de novas revoluções de flores explodindo
na liberdade de ser pedra, nuvem, água ou pó.

ouvem-se as carícias na pele da mulher que colhi
nos campos lunares,
entre o fumo e as penas das asas eléctricas do amor.
é o amor a existência da água onde existo,
no enleio dos braços e do verbo,
no entardecer de se ser apenas no interior do afecto.

26 abril, 2011

cresce o grande móvel dançarino do coração,
onde descansam os olhos dos tempos,
onde a voz ondula pelos veios da madeira
com os lábios reflectindo o vinho e as estrelas.
pego na palavra que inventaste o outro dia
e planto-a na parte interna dos olhos
onde florescem flores sorriso a cada pequeno gesto.

do cimo das nuvens pernoito o teu corpo de oriente,
a tua existência de água pela boca.
sorvo a mais radiosa luz que emanas:
és de azul fluorescente no meu coração voador,
és a palavra toda que me cresce pelos dedos,
pela boca e pelos sexos dos mundos.

e reinventas o amor no arrumar das estrelas,
conjugas os verbos na língua do silêncio
no aconchego das línguas e das histórias dos dias.
escreves em tinta invisível o tempo,
o garfo e a colher, a saliva escorrendo pelas pernas,
o poema ardendo nas folhas de oliveira.

e o amor avassalando os céus,
móvel furibundo entre as nuvens,
amontoando as palavras nas prateleiras dos deuses,
sorrisos, lágrimas, sonhos...
a vida total do amor
crescendo no infinito das coisas.

13 janeiro, 2011

no alto do mundo dos olhos crescem as raízes aquáticas,
pés que perfuram pelo coração de árvore a alma da palavra.
do céu que cobre os galhos avassaladores do abraço,
a pena sobre a mão e o verbo,
no embaraço da escrita que brota como flores carmim.
as nuvens passando pelas águas da pele,
mergulhando na leveza dos olhos
como se folhas flutuassem sobre as ondas do deleite.

no alto dos olhos as estrelas são mirabolantes flores de luz,
ramos brilhando sobre as águas da mesa de jantar,
na casa sem tecto onde vivem as palavras de arco-íris,
letras correndo pelos braços,
sendo sangue e bomba explodindo no vazio
no acontecer do poema,
no crescer do poeta pelas pernas das palavras árvore.

no alto sente-se o baixo furor do fogo
crepitando pela língua que molha os lábios,
pelos dedos no descer da terra quente:
floresta da palavra imensa de mil cores,
palavra-pétala sobrevoando os céus como águia de asas de papel.
sente-se o baixo no olhar o alto:
horizontal amor vertical
que incandesce a palavra em metamorfose.

no alto do poema o ventre é o acontecer do mundo
onde o ponto e a palavra florescem nas ramificações dos dedos:
palavras em flor, palavras em chama,
palavras silvestres no planalto de luz
onde o poema se dá e acontece.

12 janeiro, 2011

existe aquele poço imenso no centro do copo de vinho.
a boca sorve o vinho no borbulhar da alegria
e o poço consome a boca e o sujeito da boca.
copo que existe no epicentro da mão do mundo,
no corpo vulcânico da cabeça explodindo em flocos de paz.

existe aquela alfazema de sonhos brotando dos braços,
suas flores pequenas são beijos pela boca das mulheres:
virgens imaculadas da transpiração dos sexos convulsivos do prazer,
do poema sorrindo pelas gotas das uvas e do leite,
e os gritos das mulheres em êxtase no centro do copo,
os olhos vacilando no interior da palavra,
os lábios da voracidade dos lábios
e os seios no contentamento das coisas simples:
a laranja aberta em pequenos gomos no regaço da criança,
o barulho dos talheres no encontro do prato,
os dedos entrando furtivamente na roupa de algodão,
o susto, o gemido, o riso.

existe aquele gesto devorador do espaço,
onde os gigantes existem pela saliva das flores,
onde o abraço é o revolto mar subindo pelos céus,
onde o amor vive agora-agora...
no ínfimo momento onde tudo é:
amor. amor. amor.
bebido no trago inesperado do amor que és.

22 dezembro, 2010

passos, tangerinas voadoras, névoa.
corações, balas intrépidas, afecto das ondas marítimas.
os beijos escorrendo pelas paredes húmidas do suor,
escrevendo palavras de cor escarlate e violeta,
palavras desconhecidas ao som,
carne de dentro da alma.

as mãos gesticulando cordas imaginárias
e os anjos pairando no movimento dos sexos,
das línguas, da tensão dos músculos,
do silêncio que preenche o tempo de doce,
no alto da boca,
na parte interior da língua,
no toque incessante dos lábios maiores das mulheres dos rios,
de dentro das pedras da erosão,
envelhecendo.

mulheres flores de papel vincado,
mulheres cratera, mulheres crescendo pela luz lunar,
mulheres morrendo pelo amor,
com os seus seios sedentos e muitos rijos de poemas.

morrem as palavras no verosímil tempo que corre,
tempo percorridos pelos passos do coração,
de olhos fechados com a chuva caindo das nuvens mais internas,
eterna água secreta que corre secretamente.

roupa pelo chão apodrecendo, mãos mirrando pelo osso,
pregos desnudados pelos quadros caídos,
boca do coração remendada com linhas ténues de melancolia:
as árvores dançando como ninguém,
troncos imensos crescendo da garganta dos poetas
(seres élficos galopando em florestas de sorrisos).

e as palavras cristalizando do lado de dentro da língua dos dedos,
poeta enlouquecendo na combustão das palavras,
na alta maré dos verbos alienados:
as palavras morrendo sem ninguém,
seres esquecidos no silêncio oculto das coisas.

02 novembro, 2010

abro a cabeça no centro do poço
ou encerro o poço no centro da cabeça.
caio nas profundezas da cabeça poço
caindo na doçura das pêras maduras...
pesadamente,
docemente caindo.
desço pelas paredes de pedra e de ferro,
galgando, correndo, esfolando os lábios.
bato, silenciosamente no fundo,
sobre as águas, no penetrar das águas,
rebentando por dentro às golfadas de poema.
os olhos abertos, as mãos abertas, o coração fechado...
e a escuridão na consumação da existência,
poço fundo isento de céu e de terra.

e os oceanos explodindo no alto mundo,
e a luz nos crepúsculo desmaiando as lágrimas.
exaltação das águas de orvalho escorrendo pelas paredes,
pela pele de fora pulsando o bater de dentro
do sonho fluindo nas coisas do mundo.
movimento acelerado no interior do centro da cabeça
onde os poços encerram na profundidade do umbigo
os dedos com camélias florescendo,
a faca e o poema cortada em fatias muito finas.

poço de silêncio no ecoar do grito,
da zanga animalesca das constelações,
das antenas camufladas no tum-tum-tum do coração,
onde os carvalhos crescendo pelos falos erectos
penetram pelo cosmos os seus braços de homem árvore,
tocando as nuvens no alto mar do céu,
lançando redes aos peixes celestes
que brilham aqui e ali no cimo do poço,
este poço fundo em que sou também o mesmo.

poço da ilusão do tempo da vida,
vida que é na cabeça e nas mãos imaginadas.
mãos que galgam as palavras e os seios,
mãos na ronquidão da voz em espiral.
poço dos deuses,
dos lobos uivando no vinil,
poço de morte correndo na violência da faca,
da bala, da asfixia, da espinha dos peixes celestes,
da corda balouçando no alto do poço
o corpo que voa...que plana como veludo caindo,
pena de anjo, fogo infernal.

poço onde sou cabeça e poço,
vida e morte,
pedra e húmus de poema inacabado,
coração batendo no ouvido que ecoa...
batendo, batendo.
parando.

21 outubro, 2010

vi naquela árvore a resplandecente flor da morte:
suas pétalas como asas de violeta cobrindo a lua
e suas folhas no movimento em espiral de quem se entrega.
da subtileza da existência auscultam-se orquestras de cristal,
e o céu engalanado com ornatos de poema,
palavra imaculada sobre as mães que parem os filhos,
verso da poesia do ventre,
queimando a alegoria de nascer gritando,
entre o sangue e amor do sangue.

enterro as mãos nos poços da tristeza
como árvore que da raiz se sustenta:
sou a árvore da morte
com os meus dedos arrombando a terra,
a paz
como campo de batalha com as suas asas voando,
e as mães no alvoroço do beijo
com o sangue escorrendo dos peixes perfumados.

flor da morte que voa na boca da faca;
lâmina virgem cortando dia a dia a perfeição,
folha cortando o peixe voador na língua do poema
no equilíbrio do poço das flores da morte.
e os ventres no desejo dos homens árvore
com as suas flores de morte nos satélites do beijo.

e as flautas como o canto dos cisnes negros
flutuando na enfado dos poços regurgitando
as águas na ilustração do poeta:
ser com asas de palavras voando através do verbo coração.

vi naquela árvore o poeta da morte
fabricando o mel da palavra por nascer,
procurando o magnífico momento da carícia
na alta torre no cimos dos poços das flores poetas.

poema que nasce no ventre imaginado do poeta
com os dedos tremendo no amor.
poeta que é pelas flores das árvore o
ser magnífico da emoção.