18 fevereiro, 2010

na mais alta árvore cai a folha do contentamento:
sobrevoa o mundo e o olhar dos animais em fúria
e cai na velocidade da onda marítima,
criando a espuma na boca das mães
e o tormento dos ossos
no ranger da paz.

estremecem as vontades e os desejos,
os corpos arqueiam-se no espasmo da água,
deleitando-se no colo da mãe
que dorme na invenção do filho.
as bocas sabem a água e a terra,
e o pensamento cor de cereja nos olhos do beijo,
na ganância furibunda das raízes da alma
e na asfixia do verbo feito palavra.

colhem-se as raivas no momento preciso de um instante,
naquele tempo exacto entre o cair da chuva
e o jorrar do sangue.

e tu,
derradeira mulher árvore,
encerras as tuas raízes no centro do tempo
crescendo e voando na autenticidade da seiva,
morrendo pelos filhos em flor de mel.

15 fevereiro, 2010

é de prata a madrugada dos teus olhos
onde nascem os miosótis em flor;
é de prata a verdade humilde da tua pele lacerante;
são de prata os sonhos do mundo onde encontro os teus seios
de algodão doce pela língua.
é de prata a lua dos deuses, os incensos,
o sabor do teu corpo todo estendido sobre a névoa;

são de prata os laços de sangue que nos crescem na alma,
como as promessas segredadas dentro do beijo de âmbar.
é de prata o ouro e as pedras dos teus sonhos
onde me fazes rico pelos sorrisos e pela existência,
pela palavra do amor,
pelas rugas do tempo que nos celebram.

03 fevereiro, 2010

cerras as mãos com beijos de flamingo;
mãos de saliva e terra,
mãos guardadoras de sonhos,
dos infindáveis mistérios osculáveis.
enleias pelos dedos o respirar do respirar
e enterneces a morte das estrelas.

as tuas mãos são palavras secretas e indizíveis
pela boca e pela língua,
no correr da água onde pousas os teus filhos.

e das tuas mãos as nossas e as minhas,
no toque que por fora se toca por dentro
todos os cantos a norte do céu,
na aspiração da paz,
na levidade do arrepio.

02 fevereiro, 2010

aninhado nas memórias do teu baixo ventre,
ouvindo a tua voz por entre as águas,
beijavas-me com o ar da tua voz.
e eu de nada por ti acima me fui tornando,
e tu comigo dentro renasceste.
cada momento nosso então ficou gravado,
na tua e minha pele e nossa alma,
em cada gesto, cor ou som anunciado.

dos teus lábios um novo grito ecoou em todo tempo,
flor, beijo ou luz imensurável.
do teu corpo concha o meu corpo sonho renascido
e pela palavra verbo, separados.