05 setembro, 2010

e a mulher do coração cantava...
voz que eclodia do silêncio,
perpetuando-o no sorriso dos dedos sobre a vida.
voz do mundo, onda imensa rebentando,
girassol lunar, cotovia no almejo da paz.
ai voz resplandecente que grita, que chora,
que vive...

e a mulher da alma sorria...
boca luminosa pela palavra,
pelo beijo que entra de rompante,
escafandro que mergulha na alma do meu mundo.
lábio inferior que perfura a terra
poço de luz jorrando às golfadas o amor:
língua seta que perfura a morte após morte,
vivendo a vida após vida.

e a mulher do mundo tocava...
seu véu de azul vermelho voando no alto céu da vida.
dedos que percorrem o infinito,
poesia imensa no tocar das estrelas e dos sinais:
pele que arde,
pele que grita ao toque na fusão plena de se ser,
pétala que é flor e caule e raiz,
barriga de festas,
pernas que voam no percorrer dos dedos.

e a mulher do corpo dançava...
alma que toca de leve os passos sobre a madeira,
subindo redondamente as árvores.
movimento daquela erva em silêncio,
daquela nuvem que passa ali,
mão que pousa sobre a mão
e que pela mão dança a vida toda.

e a mulher da vida planta-me...
semeando o coração de flores de água e sangue,
na calma possível do rio que transborda,
fecundando-me.
eu que floresço dos sons da terra
e do silêncio dos céus,
no encontro de me seres mulher:
mulher total, sem promessas,
de presença,
de entrega...
...amor que também é.

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