07 julho, 2010

naquele quarto de hotel no cimo das nuvens
onde as águas sorviam o ar no contentamento das lágrimas
e os dedos sorrindo no lusco-fusco do rio,
as roupas respiravam como as pedras
no cimo dos corpos de alfazema.

num passo que fosse do caminho,
esse caminho de dentro dos pés,
o cansaço das coisas todas do mundo.
no desistir da prece
(onde outrora prometemos os lábios com azeite escorrendo),
o libertar dos grandes pássaros da nossa infância
naquele voo sublime de dentro da flor lilás.

e brindámos em copos de lágrimas nos olhos dos olhos,
sofrendo o corpo todo na ponta dos dedos
no alto da cabeça do mundo naquele quarto de hotel.

o rio sorrindo na boca dos lábios das pernas,
sulcando o teu corpo todo,
no nascer das alfazemas e das amoras no derradeiro
suspiro do teu umbigo.

e o quarto, naquele hotel vazio,
naquele espaço das memórias da poesia,
onde nunca outrora fomos como hoje.
na verdade de se não ser para além da cabeça,
vivendo o rio ou o rio vivendo-nos,
nada é de facto para além do vazio do amor.

no amor nada é de facto
no desapego total da vida,
o adeus perfeito.

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