29 junho, 2010

naquele momento exacto de ser canto, sou flor:
no rasgo certo entre a vida e o sonho,
no adormecer do beijo junto ao lábio,
dentro do acordar da pele das florestas,
nas lágrimas das fadas,
no riso das bocas na alvorada dos olhos,
no carinho do abraço das portas da vida.

na rocha onde descanso o meu colo, sou lágrima,
água alguma dos teus olhos todos,
no existir da claridade onde respiras,
onde és apenas a porosidade da terras dos pés,
onde pouso as mãos de mil raízes,
no entreabrir da paz do corpo.

e se te sonho porque me sonho, também és.
na submersão das pétalas na correnteza,
no engasgar da palavra amor, grito o teu nome:
água. nome que invade o corpo na asfixia do poema,
na aconchego dos peixes e das pedras
com a luz no cimo dos olhos.

grito água, como quem diz amor, ódio, morango,
na perpetuação daquele canto em que fui flor.

na flor da água que sou também tu.
no canto da agua em que me és flor, também eu.

Sem comentários: