03 setembro, 2010

entro no teu ventre preenchendo-o,
vivendo-o...
sou o ar que te percorre a imensidão:
os teus campos de poesia florescendo em alfazema na tua cabeça,
montanhas de ar quente no cruzamento dos astros
e a terra toda como berço,
como o leito onde nos deitamos.

entro no teu ventre com a palavra.
e com cada letra toco nos teus segredos, tesouros,
pedra perdida no alto da cama,
em silêncio, palpitando dentro do teu vaso.
verbo que é raio no teu corpo de céu,
descoberta sem fim onde me entrego,
livro inacabado com que me escrevo.

entro no teu ventre como na tua cabeça.
porque a cabeça é também ventre e coração e alma;
na cabeça eu sou e não sou:
cabeça geradora do mundo todo onde me encontro na tua pele.
e beijo-te os olhos, o nariz, as orelhas e a boca,
e no encontro do beijo com as tuas partes
vivo o teu ventre de fora respirando-o por dentro.

entro no teu ventre no subir da árvore,
no tocar da folha caindo,
no abraço da casca onde me relvo na palavra e sonho,
onde me torno e transformo em gigante polvo do amor,
flutuando no horizonte do abraço onde me és.

entro no teu ventre criando-me no que me és,
e no que me és sou na essência da cabeça.
percorres o teu caminho onde me encontro sendo.
planto flores amarelas e laranjas no âmago do teu sorriso,
e pelo o colo te tomo o corpo,
rodando de norte a norte,
amando o que te és em mim em todas as direcções da minha alma.

entro no teu ventre porque o amor assim é:
inesperada coisa que acontece,
agua, ar , terra, fogo,
espírito de rompante, ascendendo a respiração,
sendo
apenas vida.

Sem comentários: