22 dezembro, 2010

passos, tangerinas voadoras, névoa.
corações, balas intrépidas, afecto das ondas marítimas.
os beijos escorrendo pelas paredes húmidas do suor,
escrevendo palavras de cor escarlate e violeta,
palavras desconhecidas ao som,
carne de dentro da alma.

as mãos gesticulando cordas imaginárias
e os anjos pairando no movimento dos sexos,
das línguas, da tensão dos músculos,
do silêncio que preenche o tempo de doce,
no alto da boca,
na parte interior da língua,
no toque incessante dos lábios maiores das mulheres dos rios,
de dentro das pedras da erosão,
envelhecendo.

mulheres flores de papel vincado,
mulheres cratera, mulheres crescendo pela luz lunar,
mulheres morrendo pelo amor,
com os seus seios sedentos e muitos rijos de poemas.

morrem as palavras no verosímil tempo que corre,
tempo percorridos pelos passos do coração,
de olhos fechados com a chuva caindo das nuvens mais internas,
eterna água secreta que corre secretamente.

roupa pelo chão apodrecendo, mãos mirrando pelo osso,
pregos desnudados pelos quadros caídos,
boca do coração remendada com linhas ténues de melancolia:
as árvores dançando como ninguém,
troncos imensos crescendo da garganta dos poetas
(seres élficos galopando em florestas de sorrisos).

e as palavras cristalizando do lado de dentro da língua dos dedos,
poeta enlouquecendo na combustão das palavras,
na alta maré dos verbos alienados:
as palavras morrendo sem ninguém,
seres esquecidos no silêncio oculto das coisas.