22 março, 2010

da terra ergue-se a cabeça do pensamento.
as suas raízes estão enterradas no cosmos,
como âncora sonhadora.
da terra ergue-se a cabeça da poesia.
com as suas mil palavras escondidas,
palavras de água e de ar.
da terra ergue-se a cabeça da morte.
o seu cheiro é doce e atraente,
como as vaginas do prazer.
da terra ergue-se a cabeça do amor,
com os seus braços de polvo,
na metamorfose das asas.
da terra ergue-se a cabeça da alegria,
com suas lágrimas de fogo,
com os seus dentes muito inteiros.

da terra enterra-se o corpo todo:
corpo perfurador da mente e dos infernos,
corpo raiz da cabeça e do cosmos,
corpo pedra angular da existência:
porque tudo existe na exacta dimensão da cabeça,
porque nada existe para além da cabeça.
somos cabeça e corpo imaginado,
todo o mundo é inexacto como a cor do ar:

o amor não existe.
o ódio não existe.
apenas o apego imaginado da substância,
apenas o sentimento do que nos dói e aflige,
na construção imaginada e enlouquecida da cabeça.

o fogo extingue-se pela paixão do ar,
e a cabeça eleva-se além céu
na percepção do nada.

18 março, 2010

o teu sorriso desperta-me memórias de incensos,
aromas doces oriundos dos deuses que nos vivem dentro.
o teu sorriso são mil cosmos cintilantes,
é leite e erva molhada pela aurora,
é noite de estrelas,
é o suor dos corpos na consumação do prazer.
o teu sorriso é a súmula da alegria
e o apagar da dor impressa nos ossos.

cheiro o teu sorriso,
e olho-o sentindo-o pela pele e pelo pulsar do sangue,
e oiço-o através do cintilar dos teus lábios,
e como-o com os dentes do sonho.

e pelo teu sorriso o meu...

13 março, 2010

de lótus veste-se o pensamento de azul.

com os pés norteados para o cosmos
a mente percorre o respirar:
na inspiração do sonho e na expiração do sonho.
viajam a mente e o corpo,
num momento pela eternidade do mundo.

e pelo caminho jazem monstros de muitas cabeças,
seres disformes de medo e de inveja,
e de todas as coisas pequenas que nos tolhem.
ouve-se ao longe o silvo de Mara,
queimada pela luz daquele que se ilumina.

liberta-se na calma e na paz o apego,
e tudo o que nos é sofrimento e
herança das vidas todas.

e todo o universo se torna pequeno na mente daquele que pensa.
e todo o espaço se transforma na mais alta felicidade,
na viagem suprema e final.