23 setembro, 2010

corpo deitado sobre a pedra de rosas
envolto na fina mortalha da carícia dos dedos.
braços misturados de branco das nuvens passando,
folha viajante dos céus todos, dos olhos do mundo,
deuses de silêncio sobre a brasa.

e o vento soprando no sobressalto da morte.
onda que canta letra a letra a poesia inaudível:
belo é o som do vazio das mariposas de azul.

céu que acolhe o corpo mortalhado na chama
sobre o rio que passa, no leito das costas do poeta.
ai! morte imensa que me chama,
poema magnífico no culminar dos dias,
silêncio que se agarra à parte interior da pele,
ficando e ficando no respirar da palavra:
ente que se entrega ao florescer da semente derradeira.

e o corpo consumido pela pira sobre o rio,
ardendo no poema findo, coisa da noite brilhando.
e as crianças cantando no soluço branco da paz,
e as mulheres pela a areia caminhando com a água pelos olhos.
e o corpo do poema ardendo
na extinção do verbo absoluto do coração.

pássaros de cores voando sobre o rio no acolher dos dedos,
o corpo findo, a alma de desejo, a palavra violenta,
as flautas ardendo no canto da água,
e a palavra corpo flutuando sobre a língua.

correnteza que chama.
pulsar da terra que clama o corpo ausente do tambor
tocando sobre o lume da noite...
morrendo assim. vivendo assim. silenciando assim.
paz infinita que se consome na cabeça
com azeite ardendo na concha das mãos,
iluminando o tenro caminho das estrelas que caem.
ai! corpo da palavra! revolução das mariposas azuis!
letra na ascenção do poema coração...
coração árvore da poesia
florescendo no alto da cabeça.

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