05 junho, 2010

se o amor soubesse a manteiga,
comia-o com torradas e mel...
pelas fomes da boca, dos dentes e dos olhos.

mas o amor é um pássaro de ar revolto:
com o seu bico lança,
com suas penas de acaso
onde nos ferimos no toque e nos alegramos no abraço.
o amor é toda a coisa que nos cerca:
aqueles olhos grandes da noite,
o cheiro a framboesas pelo ar,
a água que jorra no interior da garganta,
a voz que beija pela palavra,
as mãos no regaço e os cabelos nos olhos,
o fogo da fogueira pela ardor do canto,
as lágrimas que caem no vazio pelos oceanos,
a areia que voa pelos correr dos pés,
a boca mordida pelos dentes antes do beijo,
o silêncio dos corpos no encontro que já foi.

quando for grande deito-me na relva a sentir a terra e o silencio...
e de quando em quando partirei para outras terras de abraço e de sonho.
nos abraços descobrirei que abraços já fui,
e pelas mãos fluirá o sangue do sonho num azul de serpentinas e risos.

que os passos sejam sementes,
e as palavras e os incensos a magia resplandecente das asas,
no encontro da terra por baixo dos corpos,
ao encontro das águas onde já fomos vida,
ao sabor do ventos que nos despenteiam os espíritos.

quando for grande serei apenas mais pequeno,
porque saberei brincar na erva e no sonho,
na comunhão do amor e da ternura.

sento-me no inicio e pelo fim,
no sonho que é sobretudo a vida...
no reboliço inesperado dos verbos...
no deixar acontecer o rio.
sentamos-nos?
no início e pelo fim.

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