24 setembro, 2010

barco sobre as águas flutuando no deslumbramento:
corpo no encontro das marés, do sol ardendo,
da chuva intermitente dos pesadelos,
pássaros gritando o perfeito canto.
barco sobre as águas morrendo na paz:
sem motor, sem vela agitada ao vento,
sem mastros, sem casco, sem viajantes...
barco ancora. barco afundado à superfície.

e o corpo balouçando sobre as conchas de papel,
barco de palavra construído,
com seus versos boiando junto ao beijo das folhas.
corpo que é na paz da morte a certeza do que é amor,
corpo peixe na imersão das águas lunares,
esplendoroso peixe poema no encanto da língua,
voz marítima no segredo dos lábios...

barco que navega sobre as árvores
rumando ao sabor das nuvens e das folhas voando,
com crianças correndo pela proa do beijo
e os homens amando a madeira das mulheres junto aos remos.
barco que sonha na tempestade do poema,
palavra engalanada ao leme,
norte que é acontecendo pelo verso
na récita da ode das águas salgadas do ventre da mulher.

mulher das águas,
dos oceanos dos peixes de prata
dos rios de riso ecoando pelas casas desertas.
e o barco sendo sobre a mulher,
no arrebate do coração âncora,
do coração hélice...
barco voando sobre a brisa,
barco correndo como verbo,
no acontecer do corpo que se afunda.

Sem comentários: