31 agosto, 2010

contemplando o céu
milhares de conchas caíam flutuando do céu da noite:
conchas do mar iluminadas de azul, violeta e amarelo...
e os olhos sorrindo o infinito pintado de conchas.

e nós enlaçados no nosso corpo árvore,
esticámos os ramos e as folhas, dançando ao vento,
no embalo das conchas iluminadas pelo amor.

conchas cadentes queimando o prazer,
incensando-o pelo interior do abraço,
enseada onde descanso o tumultos dos dias.

e as conchas beijam o chão junto aos nossos pés,
e no beijo conchas explodem num corpo de flor,
florindo os campos ao redor das árvores,
beijando-as com as pétalas ao de leve,
como outrora os meus dedos na tua pele.

flores marítimas respirando o ar...
flores conchas no arrepiar do areal.
anoitecer dos nossos corpos enlaçados.

beijo-te no enaltecer das conchas tocando o céu,
a alma e os teus olhos cerrados no amor.
concha amarela que cai flor sobre o teu peito gritando.

amor concha que explode em onda imensa...
...espuma dos olhos teus banhando a minha praia,
meu corpo rocha...
teu corpo concha flutuando nos meus braços mundo.

simples é o amor que se vive.

29 agosto, 2010

tempo desfilando sobre as cabeças dos dragões.
eu sou o guarda do tempo que vai da cabeça àquela estrela brilhando.
cheira a anis e a jasmim as tuas axilas de luz,
e a respiração do fogo dos olhos,
olhos na ausência e na presença dos lábios.

espero pela estrela:
na espera salvo o gato que comeu a tangerina de uma só vez.
gato engasgado pela sofreguidão do desejo.

beijo esperando, queimando, torturando,
crescendo do coração à boca.
beijo que nasce e morre no tempo que é.

28 agosto, 2010

silêncio.
pássaro do infinito na tua boca voadora,
no pressentir da voz do mundo,
subindo pelo bico do pássaro azul estampado no teu vestido de ausência.
silêncio.
água correndo sobre os seixos,
devorando a terra, a pele e o poema.
e tu nas minhas águas silenciosas crescendo,
crescendo gente que nasce pessoa,
ser vigilante com dois ombros, duas pernas, uma boca.
boca silenciosa do interior do beijo coração,
batendo e explodindo em cores omissas no reflexo das águas.

silêncio,
sobre a relva das palavras,
tocando o intocável silêncio do teu corpo,
beijo terramoto, cataclismo,
ventania.
peixe que canta a morte,
pintando com sua voz inaudível o segredo da vida.
amor, criança, sorriso,
copo transbordando, dança azul ou amarela,
andorinha louca voando na cabeça girassol.

silêncio.
mudança muda, na precisão do nada ou tudo,
sendo amor ou ódio ou nascimento.

silêncio.
ouve:
silêncio. fim. começo.
começo do começo. por fim...
nós.
silêncio

27 agosto, 2010

luz,
incandescente matéria do coração
vibrando na luminescente pele da tarde.
folhas,
no alto das costas, no sacudir dos pés,
folhas subindo dos galhos do amor,
com sabor a beijo, a lábios e a dentes.
folhas carnudas no tocar da boca,
ao de leve,
língua pela língua da alma coração...

...estrela explodindo de dentro do peito.
estrela proibida, estrela vacilante,
estrela que rasga, corta e queima,
estrela sorriso, estrela paz.

dedos,
viajantes exploradores do amor,
escrevendo o corpo com a tinta das folhas,
luz das estrelas dos olhos.
olhos,
portas e janelas na ventania,
gritando e gemendo a profecia da dança.

dança...
das palavras do poemas no crescer do poeta,
rodando,
amando a pedra,
o corpo,
os pássaros gritando,
no canto da voz,
dos lábios mais altos da mulher alma:

mulher flamejando de dentro para fora,
mulher no amparo do voo e da queda.
mulher total na libertação do poema,
poema que voa pelo fogo furacão
quebrando amarras.

ai! liberdade de ter a vida pelo colo.
vida na armadilha da vida
no sorriso do amor,
lágrima no sofrer das coisas mais belas.
lágrima que liberta pelo centro da periferia do beijo.

desafio,
de ser a coisa total do mundo,
coisa amor, coisa branca,
coisa sorrindo,
coisa nua,
coisa vivendo,
coisa que é respirando...no meio das folhas luminescentes

eu,
existindo,
nascendo do centro de mim que é o teu ventre,
a lágrima sorrindo a liberdade dos olhos
e os lábios gritando o amor silêncio.

eu que vivo folha,
no alto do amor da árvore que me és.

26 agosto, 2010

existia aquela casa com telhados de beijo
onde ergui um dia paredes de palavras,
florindo a paz pelo chão onde os corpos descansavam o sonho.
e de olhares coloquei as portas muito abertas ao abraço,
na corrida dos amores cantando e comendo.
e haviam os risos por entre as fechaduras,
e o desejo que entrava pelas janelas e nos subia pelos pés.

e as mulheres rodopiavam com suas mãos altas
desenhando espirais de luz pela noite.

existia aquela casa de silêncio,
casa fechada dentro do coração e aberta pela alma,
com suas altas muralhas de carícia
onde bebíamos segredos de água com copos de pedra,
no contentamento de quem tem lua para dormir.

existia aquela casa maravilha,
onde crianças saltavam e corriam passando paredes,
comendo figos maduros no rebentar das águas,
brincado com letras inovadoras o poema.

existia aquela casa quente de amor salgado,
onde ergui uma estátua, uma canção, o supremo gesto,
na simplicidade de quem sonha e ama a vida toda,
podendo morrer no colo da felicidade.

existia aquela casa colocada dentro do ventre da mulher,
com suas chaminés altivas fumando os aromas femininos.
ventre tapado de amarelo pelo acordar da noite,
crescendo os dedos pela boca acima,
na consumação do beijo alma: dente, língua, céu, saliva.

existia aquela casa no interior do amor,
crescendo crescendo.
eternamente.

25 agosto, 2010

enterro as raízes da alma no planalto do coração.
planto-me na terra que me recebe:
maravilhoso é o aroma da pele que me cerca,
que se me cola no interior dos olhos
cegos e inusitados no sentir tudo
na escuridão da noite lunar.
magnifico êxtase do sonho vida,
no sentir o teu ventre ardendo e arquejando,
no sussurro das mãos dançando as cores;
lava escorrendo pelos teus seios festa,
queimando tudo no passar do ponto da exclamação infinita.

crias o poema pela barriga das pernas,
gerando a perfeição do voo nocturno.
crescem-me rosáceas pelos buracos do corpo em convulsões:
sou hoje a reconstruída árvore da vida
tacteando o mundo na perfusão do sangue da terra pele,
beijando a pedra e a faca e a flor,
sangrando pela boca sedenta do teu umbigo.
e pego no teu corpo de papel
escrevendo-te pela vida as palavras fecundas:
amor que é sendo totalmente
como ferro, beijo, cor ou beijo;
ser sendo no
viver,
na plenitude de estar no verdadeiro silêncio
de ser amor.

23 agosto, 2010

aquela pedra imensa de silêncio no encontro dos pés
e no olhar na particularidade do pó que nos fica.
pedra que entra pelos olhos no infinito do coração:
coração eterno do mundo,
coração palavra amor
coração batendo dentro do coração,
doendo gostosamente e batendo pelo vento...batendo.

pedra que pulsa no interior da casa da palma da mão,
no encontro das mãos, dos dedos, das linhas,
nas luas crescendo nos teus dois olhos imensos de vida,
no sol encerrando a longa noite do poema.

pedra que lacrimeja a água que te vai correndo,
nesse rio que trazes dentro,
com teus peixes dançando de azul a eternidade
na beleza incessante das águas onde mergulho respirando-te.

pedra que sendo pedra é a ruptura certa do bater das águas todas,
segredos imensos de carícia do verbo,
pedra coisa onde o amor sempre é.

aquela pedra total do coração batendo,
silenciosamente no murmúrio onde te posso ser e amar,
sendo também pedra do coração que te bate.

e sendo pedra, coração ou coisa imensa,
na sofreguidão de ser o ar, a migalha sobre o lábio,
a estrela gravada no galho da árvore,
o toque do pé na parte interna da tua perna,
sendo apenas a total coisa no centro mais interno do coração da alma,
onde dormi esperando sem esperar o acordar da palavra.

e sendo a pedra da vida da vida,
onde já vivemos o amor grão a grão,
apenas amo:
coisa sagradamente bela isto de ser pedra...
...nada...
...ou coisa do amor.
coração incessante na loucura dos passos,
no encontro das flores amarelas voando nos teus olhos.
é de pedra e de terra o caminho das amoras pela boca,
escorrendo o fogo em água
na eternidade toda na ponta dos dedos,
no desdobrar do coração,
explodindo em flor imensa de dentro para fora.

no desencontro da boca renasce o poema no centro do corpo,
no incendiar das flores de verso.

coração explodindo no alto da onda marítima,
no esvoaçar das folhas da árvore do sonho
crescendo no baixo da cabeça roçando os céus.

coloco as mãos sobre o monstro do amor,
na carícia da devastação dos campos das flores amarelas,
no fogo louco do voo da andorinha do coração alma.

e as mãos seguem pela espinha dorsal das vidas,
no canto da tua língua de desejo.
param os dedos sobre o teu peito aberto
no encontro da palavra que me consome pelo silêncio.
amor que acontece no fluir dos olhos das almas,
no momento certo e subtil da vida:
amo eternamente o amor que me és.