28 julho, 2010

deixo os teus lábios em migalhas pelo corpo,
no percurso do beijo
no galope dos animais.

pela língua perco as palavras pelos passos,
no trautear do poema esquecido sobre a flor alada.
desejo o leite madrugador dos teus olhos
no crescer das lunares saudades do meu peito,
do desejo frenético de me consumir pelo lume,
na asfixia do ar metálico pela garganta até aos joelhos,

e morro aqui.
em cada palavra, no meu desejo da palavra certa,
na dobra do coração debaixo da almofada de xisto,
no beijo do olhar sobre o decote perfumado de flores e verbos;
flores maravilhosas crescendo dos teus seios de volúpia
polvilhados de canela e açúcar,
desenhando corações dentados na engrenagem do amor.
verbos sacramentais na indiscrição do papel sobre o teu nome
e esse riso ardendo pelas bandeiras vermelhas da carícia.

pouso os olhos e a respiração no desassossego,
no pousar do redondo canto
por detrás do ranger dos dentes de leão.
ouve-se pelos poros o nascer do vento
nas abóbadas do abraço.
no transpirar da alma
no rasgar do sorriso pelas águas dos sexos vivos.

planto o amar em migalhas de palavras
em todos os hemisférios temporais,
sorrindo a vida com sementes de beijos
no teu quente colo,
na excitação do verso!

25 julho, 2010

naquela casa no cimo do mundo
os malmequeres brotam pelas paredes dos olhos
e sobre a terra estendem-se as mulheres crescendo,
rebolando no contentamento dos seus lábios todos,
na fluidez dos orgasmos das águas.

naquela casa magnífica de luz
voando por entre as pestanas dos sorrisos,
no arder dos teus seios no arco-íris,
revejo-me andando e correndo com os filhos pelas mãos
de pés descalços,
nascendo pelas mulheres gritando na alegria.

do seu grito cósmico brotam estrelas pelas vaginas florais,
no coroar dos céus de anis e paus de canela pela boca,
no desterrar do nome das coisas na violação do lábio,
no beijo correndo pela humidade
entre os seios erectos das mulheres,
na celebração da casa no quarto das luas,
com laranjas violetas nas papilas em neon brilhando
pela noite enlouquecida das mulheres.

e os satélites do amor fogueiam a imensidão,
no sentir do beijo na descoberta do pescoço,
na conjunção do abraço,
na brasa imensa onde me crescem as mulheres particulares do mundo.

amo o sangue bebendo-o pela alma em colheres de sopa,
sentido o vermelho pujando a paixão pela língua
no descer imediato da garganta ao coração,
no artifício fogo de crescer em sangue pelo espinho,
na declamação da afeição dos malmequeres.

e aquela casa crescendo pelas mães no redor dos filhos,
no festejo do sangue das mulheres escorrendo
no parir das estrelas de anis.

é no abraço da casa imensa que me sinto,
no nascer dos braços no crescer da casa mundo que me torno,
no encontro fluorescente dos malmequeres brilhando,
no segredar das palavras secretas do prazer
de amar o amor pelo o amor.

21 julho, 2010

na casca do coração da árvore à beira mar,
no momentâneo fogo do pensar e do existir,
aquela textura do beijo das ondas pela seiva
no borbulhar da língua de areia sobre os olhos.
e os homens cantando no seu alto voo com as chamas dançando nos pés
e os corações na convulsão da terra.

aquela águia de gigantes asas entre o sol e a lua
no olhar das crianças que correm na caruma,
no gargalhar dos tempos da pele da palavra,
no andar andando pelos pés da alma entre as flores.

eleva-se no ar o aroma das almas do mundo,
no verdejante musgo norte da árvore à beira mar,
no sopro do amor das pequenas coisas,
na pedra sobre a mão e na mão sobre a pedra
no elementar encontro de se ser.

e os homens cantando na voz purpura das mulheres,
no emprestar da lua no bater da pele até ao sol:
tudo é terra e água na alma das coisas,
no viver tudo pela casca de árvore,
no debandar do amor no movimento da dança,
no acolher do meu corpo ardendo.

eu pássaro águia no crescer das folhas
relvando o tempo de quase nada,
enraizando o abraço onde te encontro sempre
no arder do amor de dentro para fora
na paz de se ser de fora para dentro.

e o olhar na casca do coração da árvore à beira mar.

17 julho, 2010

corres pela praia com as minhas altas asas
no compasso frenético dos tambores de fogo.
ouvem-se as vozes do mundo todo
com seus longos cabelos brancos
no tan tan tan do coração.

e o mar lá está,
na dança da vida em meus olhos,
no vai e vem dos corpos celestes da pele,
entre cânticos e dizeres do céu
onde encontro as minhas partes todas.

correndo,
no exacto momento de viver na tua praia,
onde as mãos escorregam ao som das sementes
plantadas nos nossos ouvidos poços de mar.

buraco da terra das mil vidas,
álbum perfeito das alegrias
de estar correndo pela praia dos teus olhos quebrados.

e eu que estou partindo incessantemente na respiração,
sendo aquela concha inanimada junto ao teu pé mais à esquerda,
revejo-te nestes sonhos do poço das vidas
onde sacias a sede de crescer em teus altos braços.

e eu que te amo no repente dos teus pés correndo
entre a faca e a flor,
com os tambores cantando as luas pintadas,
no sopro de tocar os mundos que nos correm no movimento dos pés.

16 julho, 2010

no limoeiro da felicidade o encontro de sermos.

cantam as pedras todas dos caminhos
onde os pés insistem o afecto e o abraço
no andar pelo amor no caminhar do coração.

pelas mãos encontro a água correndo do colo das mulheres,
e na comoção do calor que lhes vem de dentro
lacrimejam os olhos dos meus dedos,
e da pureza da sua seiva fertiliza-se o meu corpo girassol.
cresço no desapego dos céus e ao encontro dos céus,
enraizado na terra que também sou pelos pés do caminho.

trepam as mãos exploradoras pelo coração da felicidade
no ardor das feridas na frescura dos limões.
e pela boca fica-te o beijo nos corpos todos,
beijo locomotiva do verbo
no extremo da língua
à profundidade da pedra angular do corpo limoeiro.

no desapego do eu,
dos vários tempos conjugados também hoje,
giro na alegria amarela das pétalas,
da dança milenar dos astros no interior dos gomos.

no rodopio do ardor do beijo
encerro em mim a abundância da alegria
no culminar da explosão do corpo em mil sois girando,
na comunhão da morte e da vida cosmogónica
onde te encontro sendo em mim a cada dia.

13 julho, 2010

continuo sentado junto da mesa do céu
no desejo do silêncio da terra,
entre a boca e o ossos das mãos.
passo na inconstância os dedos pelas maçãs
onde pássaros em fogo resgatam o olhar da tua pele.

pego na laranja incandescente pelo sumo
no vislumbre da palavra certa da boca relógio
onde queimo incensos de canela e benjoim sobre os sexos cantantes,
entre danças e alegrias sobre a mesa do céu.

rasgo os palavras nas sílabas certas
aquecendo o coração do mundo na conjugação do amor.
pouso, vagarosamente,
a faca no cimo das tuas pestanas
e acendo-te em fogo de baixo para cima:
da palavra ser
ao poema eléctrico de estar nos teus olhos chuva.

como o silêncio pela laranja em sangue
no respingar da água do mundo pelas unhas das árvores coração,
no lamento do carinho no olhar da tua pele.
coloco as mãos no aplauso dos sexos
debitando o silêncio das letras todos do mundo,
na construção do canto da tua voz sobre a mesa.

no ranger da madeira no apoio das pernas,
perscruta-se o amor no fazer das folhas,
na germinação do silêncio da terra onde te consumo em espasmos.

morro um pouco na várias vidas que nos cercam,
na distância exacta entre a faca e o beijo.
no silêncio da mesa do céu.

09 julho, 2010

aquando na paz da superfície plena da pele,
onde os suspiros norteiam os amanheceres
no entreabrir dos olhos mundo,
no chegar da calmaria,
o descanso das mãos que me colhem.

sou toda a coisa imaginada e sem sentido,
neste pouco nada entre o passo que vai e que vem,
entre o nascer da folhagem junto aos pés
e o arquejar dos seios depostos sobre a maré.
é na força exacta do navegar do corpo
que o mundo mexe na convulsão da poesia certa:
no verso magnífico dos teus dedos polvo,
no bater do coração poema, da palavra voraz da tua boca alma.

sobre a tua pele estendo a toalha dos lanches imprevistos
tomando o gosto do teu corpo recheado com compotas vermelhas
e por de sois.
e de te engolir com a garganta da alma pressinto-me
no momento exacto de te seres em mim:
na combustão do amor das flores amarelas.

deito-me por fim no interior da terra,
no enterro em que me nasço no teu ventre mãe.
no começar do começar,
no movimento certo de morrer ou nascer também aqui:
e sou água correndo, flor do prado,
caneta inusitada da palavra,
lágrima das grandes árvores da minha infância,
gargalhada musical dos amigos das mãos...
e sou apenas sendo,
no ritmar da paz,
na nudez de estar agora.
e só agora sendo,
sou flor amarela sobre a tua pele.

07 julho, 2010

naquele quarto de hotel no cimo das nuvens
onde as águas sorviam o ar no contentamento das lágrimas
e os dedos sorrindo no lusco-fusco do rio,
as roupas respiravam como as pedras
no cimo dos corpos de alfazema.

num passo que fosse do caminho,
esse caminho de dentro dos pés,
o cansaço das coisas todas do mundo.
no desistir da prece
(onde outrora prometemos os lábios com azeite escorrendo),
o libertar dos grandes pássaros da nossa infância
naquele voo sublime de dentro da flor lilás.

e brindámos em copos de lágrimas nos olhos dos olhos,
sofrendo o corpo todo na ponta dos dedos
no alto da cabeça do mundo naquele quarto de hotel.

o rio sorrindo na boca dos lábios das pernas,
sulcando o teu corpo todo,
no nascer das alfazemas e das amoras no derradeiro
suspiro do teu umbigo.

e o quarto, naquele hotel vazio,
naquele espaço das memórias da poesia,
onde nunca outrora fomos como hoje.
na verdade de se não ser para além da cabeça,
vivendo o rio ou o rio vivendo-nos,
nada é de facto para além do vazio do amor.

no amor nada é de facto
no desapego total da vida,
o adeus perfeito.

04 julho, 2010

nos sonhos paralelos da boca das árvores
existe a espuma do rebentar das ondas
e os risos dos pés pequenos brincando junto ao mar.
os peixes saltam junto aos gomos suculentos
no interior da garganta,
na alegria do calor sobre a pele
e no enlevo espasmódico dos teus lábios mundo.

no balouçar das árvores o beijo da boca,
o abraço na longitude dos ramos,
no vacilar das folhas, no quebrantar da luz.
ouvem-se pássaros de voz grave murmurando,
no regaço do rebentar das ondas
junto ao corpo molhado e inerte:
são de sangue as alegrias da boca
e de água as amarguras do teu peito.

do salmear das aves de prata,
ressurge, no sangrar da boca,
o teu nome de fogo no interior da alma,
onde nada é substância para além da palavra;
e no movimento das marés dos olhos,
onde as árvores perfuram o peito no acontecer das raízes,
o estancar das águas do coração
no interior do interior do teu peito.

sorris no adormecer intempestivo da morte,
onde te acolho, por fim,
nos meus braços ramos,
no contentamento de ser terra
e árvore
no teu eterno colo.

01 julho, 2010

na flutuação das mulheres na cabeça dos sonhos
existe a proporção certa da leveza da paz,
onde as mãos descansam junto ás carnes dos sorrisos.

as pernas ondulam junto ao sol
no desenho de arco-íris inovadores na humidade dos úteros,
onde as mãos brincam junto aos filhos imaginados
no enternecer no hábito do reflexo.

pela boca das mulheres floresce o imenso amor
no sussurro flamante da penetração da fala na auscultação do mundo.
suas mãos pendem no cuidar do mundo,
no estar nas coisas do acontecer da vida,
no saborear da pele junto ás frutas pelo chão da terra.

no colo das mulheres o amplexo do eu,
no descansar do descansar,
no beijar das pétalas todas no cimo dos joelhos.

no flutuar do afecto,
na perpetuação da suavidade do leito onde me refaço,
a liberdade geradora das mulheres:
na perfeição dos seus corpos lunares,
no riso do fluxo do sangue junto aos lábios,
nos seus corpos ninhos,
no afagar dos corações de relva onde pernoito.

na flutuação das mulheres,
o aterrar da paz.