26 agosto, 2010

existia aquela casa com telhados de beijo
onde ergui um dia paredes de palavras,
florindo a paz pelo chão onde os corpos descansavam o sonho.
e de olhares coloquei as portas muito abertas ao abraço,
na corrida dos amores cantando e comendo.
e haviam os risos por entre as fechaduras,
e o desejo que entrava pelas janelas e nos subia pelos pés.

e as mulheres rodopiavam com suas mãos altas
desenhando espirais de luz pela noite.

existia aquela casa de silêncio,
casa fechada dentro do coração e aberta pela alma,
com suas altas muralhas de carícia
onde bebíamos segredos de água com copos de pedra,
no contentamento de quem tem lua para dormir.

existia aquela casa maravilha,
onde crianças saltavam e corriam passando paredes,
comendo figos maduros no rebentar das águas,
brincado com letras inovadoras o poema.

existia aquela casa quente de amor salgado,
onde ergui uma estátua, uma canção, o supremo gesto,
na simplicidade de quem sonha e ama a vida toda,
podendo morrer no colo da felicidade.

existia aquela casa colocada dentro do ventre da mulher,
com suas chaminés altivas fumando os aromas femininos.
ventre tapado de amarelo pelo acordar da noite,
crescendo os dedos pela boca acima,
na consumação do beijo alma: dente, língua, céu, saliva.

existia aquela casa no interior do amor,
crescendo crescendo.
eternamente.

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