02 novembro, 2010

abro a cabeça no centro do poço
ou encerro o poço no centro da cabeça.
caio nas profundezas da cabeça poço
caindo na doçura das pêras maduras...
pesadamente,
docemente caindo.
desço pelas paredes de pedra e de ferro,
galgando, correndo, esfolando os lábios.
bato, silenciosamente no fundo,
sobre as águas, no penetrar das águas,
rebentando por dentro às golfadas de poema.
os olhos abertos, as mãos abertas, o coração fechado...
e a escuridão na consumação da existência,
poço fundo isento de céu e de terra.

e os oceanos explodindo no alto mundo,
e a luz nos crepúsculo desmaiando as lágrimas.
exaltação das águas de orvalho escorrendo pelas paredes,
pela pele de fora pulsando o bater de dentro
do sonho fluindo nas coisas do mundo.
movimento acelerado no interior do centro da cabeça
onde os poços encerram na profundidade do umbigo
os dedos com camélias florescendo,
a faca e o poema cortada em fatias muito finas.

poço de silêncio no ecoar do grito,
da zanga animalesca das constelações,
das antenas camufladas no tum-tum-tum do coração,
onde os carvalhos crescendo pelos falos erectos
penetram pelo cosmos os seus braços de homem árvore,
tocando as nuvens no alto mar do céu,
lançando redes aos peixes celestes
que brilham aqui e ali no cimo do poço,
este poço fundo em que sou também o mesmo.

poço da ilusão do tempo da vida,
vida que é na cabeça e nas mãos imaginadas.
mãos que galgam as palavras e os seios,
mãos na ronquidão da voz em espiral.
poço dos deuses,
dos lobos uivando no vinil,
poço de morte correndo na violência da faca,
da bala, da asfixia, da espinha dos peixes celestes,
da corda balouçando no alto do poço
o corpo que voa...que plana como veludo caindo,
pena de anjo, fogo infernal.

poço onde sou cabeça e poço,
vida e morte,
pedra e húmus de poema inacabado,
coração batendo no ouvido que ecoa...
batendo, batendo.
parando.

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