19 janeiro, 2010

vivem as mãos nuas junto ao corpo suado,
sente-se a água que escorre pelo peito vibrante.
ouve-se ao longe os espasmos do rouxinol que morre
pelo poema e pelo canto.
a luz resplandece no crepúsculo que se anuncia no anoitecer da pele,
no calor distante do prazer e da repulsa.
lambo as partes mais viscosas do sonho
e delicio-me com o néctar que envenena,
aos poucos,
toda a existência da loucura.

sabem a grãos de pimenta as águas que descem dos deuses.
embriago-me no passar do tempo das mãos nuas,
a cada momento,
a cada nada,
como se de nada te viesses ao mundo, ao sonho e a mim que te sustento.

sento-me sem corpo na sustentação do prazer
e deixo-me voar em espirais com asas de alecrim e canela.
são inócuos os tempos em que se vive o prazer ou
a transparência etérea das águas.

descanso um pouco no meio das tuas muitas pernas,
onde em oscilações me enlaças pela cabeça,
num aperto derradeiro e primeiro do prazer e do olhar.

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